domingo, 29 de abril de 2018

A cadeira emprestada e devolvida

Banquete medieval
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






O conde Henrique tinha por senescal um homem duro, avaro e cruel. Sempre que o conde fazia alguma obra de caridade, ele se condoía muito pela perda do patrão.

Não porque zelasse desinteressadamente pelos bens do conde, mas, pelo contrário, porque roubava constantemente da mesa vinho, caças e outros alimentos, que depois devorava às escondidas. E não queria que outros compartilhassem com ele os bens do conde.

Isso ocasionava algumas vezes, sobretudo quando havia visitas, cenas hilariantes com as quais se divertia o conde.

Mas outros que viam isso não achavam graça, e desejavam que o senescal fosse de alguma forma punido por sua avareza.

Um dia o conde anunciou que ia dar uma festa, para a qual estavam convidados todos os seus vassalos, altos e baixos, ricos e pobres. Festa suntuosa.

domingo, 15 de abril de 2018

A alma penada de Castelbouc

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Nas gargantas do rio Tarn, do lado esquerdo para quem vai rumo a Santa Enimia, um curioso castelo expõe suas ruínas fantasmais sobre um rochedo quase inacessível.

O seu deplorável estado liga-se à lembrança lendária de um nobre que não quis ir às Cruzadas e, caindo numa extrema moleza, teve o coração corrompido pelas mulheres.

Desde então um animal estranho – dizem – volta de tempos em tempos ao local e solta misteriosos gemidos.

Os remotos fatos aconteceram no século XIII. Nessa época São Luís rei da França, bispos, barões, senhores e servos partiam para as Cruzadas.

Foram procurar a Raymond, Senhor do castelo, para ir defender a Terra Santa. Porém, desde o alto de sua poderosa torre, ele berrou:

‒ “Eu fico!”

‒ “Mas como, senhor? Todo o mundo vai para a Cruzada!”

segunda-feira, 2 de abril de 2018

O vinho derramado

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
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Havia na Normandia um fidalgo bastante pobre, que só podia dispor de umas poucas moedas para comprar diariamente seu alimento.

Uma certa manhã, verificou que só tinha em casa um pão, e decidiu comprar um pouco de vinho com algumas moedas de pouco valor.

Foi à taberna próxima e pediu vinho.

O taberneiro, que era um homem grosseiro e desagradável, serviu-lhe de má vontade um copo de vinho. Colocou-o na mesa tão bruscamente, que derramou quase a metade.

 Em vez de desculpar-se, disse com insolência:

— O senhor está com sorte. O vinho derramado significa alegria e riquezas.

O fidalgo não quis protestar contra aquele mal educado, pois seria trabalho perdido. Mas achou que de algum modo deveria ajustar essas contas, e pediu que o taberneiro lhe trouxesse um pedaço de queijo.