domingo, 29 de agosto de 2021

O fiel leão de Godofredo

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Entre os nobres cavaleiros de Provença que partiram para as Cruzadas contra os infiéis, havia um senhor chamado Godofredo de Tours, de grande valor, guerreiro tão heroico como jamais se conheceu.

Nos combates era o primeiro a se lançar sem se preocupar em cobrir seu corpo contra os dardos e as pedras. 

Galopava até os esquadrões árabes invocando a proteção do Senhor. 

Tal era sua fama que em todos os exércitos era conhecido e admirado o seu heroísmo!

Um dia cavalgava ele numa clareira, com outros cavaleiros, seguido de numerosos pajens.

De repente ouviram uns terríveis rugidos de leão. Todos, exceto Godofredo, tomados de pânico, fugiram com medo de cair nas garras da fera.

Mas Godofredo, vendo que seu cavalo não lhe obedecia, pegou sua espada, desceu do cavalo e dirigiu-se à floresta onde estava o leão.

domingo, 22 de agosto de 2021

Cantiga de Nossa Senhora de Castro Marim

Nossa Senhora dos Mártires, Castro Marim
Nossa Senhora dos Mártires, Castro Marim
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Esta cantiga refere-se ao surgimento da devoção a Nossa Senhora de Castro Marim (Algarve, século XII), especial protetora dos portugueses cativos dos mouros.


Captivo de um pêrro moiro
Em terras de moiraria
Debaixo de duros ferros,
Um pobre cristão vivia.

Negro pão e água turva
Só lhe davam por medida
De manhã até à tarde
A um moinho moia;
E à noite o perro infiel,
Com medo que lhe fugisse,
N’um caixão grande o fechava,
Muito forte em demasia.

Depois, em cima deitado,
Em tom de mofa dizia,
Como quem Deus não conhece,
Esta horrível heresia:
- Livre-se d’aqui agora
A tua Virgem Maria! 

domingo, 15 de agosto de 2021

“Não queiras para os outros o que não queres para ti”

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Entre os lavradores e viajantes da Catalunha, o nome de Ferreol era muito temido. Nas noites de tempestade, quando a água bate com fúria nas rochas, o bandido Ferreol e seus companheiros aguardavam em seus postos, para assaltar qualquer infeliz e roubar-lhe a bolsa, e quiçá deixá-lo estendido sem vida em um matagal.

Por toda parte se narravam as façanhas do bando, que levava o terror a todos os que tinham que passar pelos montes e bosques, lugares preferidos de Ferreol e seus companheiros.

Um dia, ao pôr-do-sol, quando o crepúsculo enchia de sombras as proximidades das montanhas, um frade caminhava a passos largos. Ia rezando com devoção suas orações, e não percebeu a aparição de dois homens no meio do caminho.

Estes pararam o bom religioso, dizendo-lhe:

— Irmão, passe-nos a bolsa!
O frade, surpreendido, lhes respondeu que não levava nada consigo.

domingo, 8 de agosto de 2021

A penitência que fez florir o galho seco

Catedral de Sens, imagem da fachada
Catedral de Sens, imagem da fachada
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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São Bond foi um rico mercador espanhol que se estabeleceu na cidade francesa de Sens há bem mais de 13 séculos.

Os espanhóis têm fama de serem muito ciumentos e ele o era em excesso.

Não se saberia descrever o sofrimento de sua mulher pelos ciúmes do marido. Esses foram tais que acabaram virando doença.

O comerciante viajava com muita frequência e deixava sua casa para fazer os negócios, os quais, aliás, ele conduzia perfeitamente.

Porém, durante toda a sua ausência, devoram-no a desconfiança e a dúvida.

E quando voltava à casa já chegava com os nervos na flor de pele, prestes a explodir numa cólera tão violenta quanto injustificada.

Sua infeliz esposa era a que menos justificava esse tratamento.

domingo, 1 de agosto de 2021

As façanhas de Beuvon

Cavaleiro partindo para a guerra, anonimo frances

Luis Dufaur
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Os sarracenos ocupavam, em outros tempos, grande parte da Provença. A impiedade deles chegou a tal ponto, que Deus decidiu extirpá-los dali para sempre.

Escolheu como instrumento de sua santíssima vontade um herói chamado Beuvon.

Educado no temor de Deus e no ódio aos infiéis, era um cavaleiro puro e piedoso, e seu coração estava cheio de valor.

Num dia de verão, cansado pelo calor, adormeceu à sombra de uma árvore. No sono, teve uma maravilhosa visão. Apareceu-lhe São Pedro, e lhe disse:

— Levanta-te, sem demora nem vacilação, e marcha contra os sarracenos, que por sua impiedade excitaram a ira de Deus.

Tu os expulsarás de Peyrempi. Uma vez tomada essa fortaleza, não te será difícil persegui-los, até fazê-los desaparecer do país.

Beuvon se levantou e tomou o caminho de Peyrempi.