domingo, 24 de junho de 2018

São Domingos no enterro do comerciante


Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Certa feita, o Conde Lucanor estava falando de seus assuntos com Patronio seu sapiente conselheiro, e disse:


– Patronio, alguns me aconselham reunir a maior quantidade possível de dinheiro. E dizem que o que mais convém, mais do que tudo.

Rogo-vos vossa opinião sobre esse assunto.

– Senhor conde – respondeu Patronio – é necessário os grandes senhores terem dinheiro em muitas ocasiões. Sobre tudo para nunca deixardes de cumprir vossos deveres por carência de pecúnia.

Mas não por isso podeis pensar só em reunir dinheiro esquecendo todas as obrigações que tendes com vossos vassalos. E as obrigações próprias de vosso estado e dignidade.

Porque se agísseis de outro modo vos poderia acontecer o mesmo que ao lombardo que morava em Bolonha.

O conde não conhecia a história e lhe perguntou sobre o acontecido.

– Senhor conde – contou Patronio – havia na cidade de Bolonha um homem nascido na Lombardia acumulador de grandes riquezas sem olhar de onde provinha. E só procurava acrescentá-las dia após dia.

Até que o lombardo adoeceu muito gravemente. Um de seus amigos, vendo-o tão perto da morte, lhe pediu que se confessasse com São Domingos, que na ocasião estava em Bolonha.

domingo, 10 de junho de 2018

O anjo e o cálice do ermitão

O anjo e o cálice do ermitão
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Enquanto um peregrino perfazia sua longa romaria aconteceu de se aproximar um homem jovem, pobremente vestido, que lhe pediu licença para prosseguir na sua companhia.

No transcurso da viagem o peregrino ficou admirado vendo seu novo companheiro se afastar dos locais onde costumeiramente a juventude procura prazeres, como bailes e cabarés.

Em revanche, quando o novel viajante descobria um cadáver abandonado na floresta, se dava todos os cuidados para enterrá-lo.

Certa feita, no fim da jornada, foram surpresos pela noite precisamente numa floresta. Só conseguiram perceber uma pequena ermida.

Nela imploraram a hospitalidade de um santo homem que lhes ofereceu seu pão e seu leito.

Na manhã do dia seguinte, após apresentarem seus agradecimentos e se terem despedido, os caminhantes retomaram a estrada.

Mas, eis que o peregrino percebeu na sacola do jovem um belo cálice dourado que o ermitão usou para dizer a Missa.

– Como é possível que tu tenhas ousado roubar um homem que se mostrou tão bom conosco?, reprochou-o.

O jovem respondeu: