domingo, 10 de dezembro de 2023

A pedra furada

"A pedra furada", ou o demônio Folaton petrificado
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






No cimo de uma colina de 1220 metros de altura, no sul do departamento de Isère há um singular arco de pedra. Ele é chamado “A Pedra Furada”.

Esta magnífica escultura natural tem uma explicação que fez nascer uma lenda tida como verdadeira.

“O duque de Lesdiguières, senhor do castelo de Vizille, era um grande caçador.

“Para conservar os animais dentro de seu território decidiu construir um muro imenso que daria a volta em todo seu feudo. Porém, o custo da realização era exorbitante.

“Ele não podia gastar tanto dinheiro só por sua paixão, mas contorcia-se de desejos de fazé-lo.

Satanás, porém, ficou sabendo que o duque andava com essa caprichosa “necessidade” e decidiu fazer uma visitinha demoníaca ao agitado duque.

‒ “Senhor duque, fiquei sabendo de vosso belo desejo, tão grande e admirável, que eu decidi construir para Vossa Senhoria esse imenso muro gratuitamente”, disse o diabo bajulador.

Um muro imenso para segurar os cervos
O duque logo compreendeu que o diabo estava aprontando uma das dele.

Mas, a vontade desarranjada de fazer o muro era como uma cócega que não o abandonava.

Então, ele achou melhor deixar o demônio falando e assim sonhar um pouco com o absurdo muro.

‒ “Eu, continuou Belzebu, eu não vos pedirei em troca nada de terrestre. Mas, só... apenas ... quer dizer ... só uma coisinha...

‒ “Bem, uma coisinha de nada ... , e falando baixinho acrescentou no ouvido do duque que morria de vontade de caçar, “só... tua ... alma...”

O duque estava doido pelo muro, mas a perdição eterna... ir no inferno pela eternidade toda ..., isso lhe parecia demais!

Dividido entre o capricho e o medo do inferno, o duque achou mais esperto pôr uma condição ao diabo. Uma condição ‒ achava ele ‒ que o diabo não poderia cumprir. Ele, o esperto duque, passaria a perna em Satanás!

‒ “A condição é que você construa esse muro num tempo recorde”.

‒ “Sem dúvida, vossa majestade será bem servida”, respondeu o anjo das trevas.

‒ “Eu vou montar no cavalo e farei um giro pelo meu domínio.”

‒ “Tudo seja feito como Vossa Graça deseja”, respondeu em tom de pilheira o pai da mentira.

‒ “E se o muro não estiver pronto quando eu voltar do giro, eu não estarei obrigado a nada”.

‒ “Wuaff, wuaff”, latiu o demônio em sinal de aprovação, certo que tinha o duque no bolso.

E enquanto o duque saia de passeio em belo corcel, Belzebu ordenou a um outro diabo de nome Folaton que começasse logo a construção.

Folaton era um diabo empreiteiro e mandou vir dezenas de outros espíritos turvos do inferno. Sob seu comando trabalharam como demônios para levantar o muro em tempo recorde.

O muro crescia numa velocidade extraordinária. O duque não podia acreditar no que via.

E eis que os dois extremos do muro iam se tocar e ele ficaria para sempre condenado no abismo infernal!

‒ “Louco de mim”, exclamou o duque, “achei que era mais esperto que o diabo, e ele me passou a perna! Está tudo perdido!!!”

Porém, o anjo da guarda estava junto dele e lhe soprou um bom conselho no ouvido: pedir o auxílio de Nossa Senhora!

O duque então rezou sua oração preferida: a Salve Rainha.

A “Salve Rainha” em gregoriano, Coral da TFP americana: MAIS

O conselho do anjo da guarda foi perfeito.

O que aconteceu então? Ninguém sabe dizê-lo ao certo.

Foi o anjo da guarda? Foi São Miguel arcanjo ele próprio? O fato é que obedecendo a uma ordem de Nossa Senhora, um espírito angélico comunicou uma força prodigiosa ao corcel do duque.

Castelo de Vizille
E, de um salto assombroso, quase sobrenatural, passou por cima do muro e antes que estivesse terminado chegou ao castelo.

O duque estava salvo!

Belzebu não aceitou a derrota. Blasfemava, ameaçava, cuspia, vomitava fogo, quebrava tudo o que havia por perto.

Mas, o anjo estava ali para lembrar que tinha perdido. O espírito de luz fez aceno de que iria jogar o diaboi de ponta cabeça no inferno.

Sem ter mais tempo nem ninguém em quem descarregar sua cólera, Belzebu chamou a Folaton que lhe tinha prometido fazer o muro em tempo recorde e deu-lhe um tremendo coice com seu pezunho enfumaçado.

Folaton saiu expelido pelo ar, passou por cima do morro de Creys, que fica perto de La Motte de Aveillans, até aterrissar de quatro enfiando seu bico na terra. Ali ele ficou esmagado pela sua enorme corcunda.

Ele ficou petrificado como uma lembrança para nunca mais nenhum tolo desastrado tentar passar a perna no diabo.



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domingo, 19 de novembro de 2023

A prédica de Santo Antônio no consistório

Santo Antônio, Sevilha
Luis Dufaur
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O maravilhoso vaso do Espírito Santo, meu senhor Santo Antônio de Pádua, também de Lisboa, um dos discípulos escolhidos e companheiros de São Francisco, ao qual São Francisco chamava seu vigário.

Pregando uma vez em consistório diante do Papa e dos cardeais (no qual consistório havia homens de diversas nações.

Isto é, gregos, latinos, franceses, alemães, eslavos e ingleses e de outras diversas línguas do mundo).

Inflamado do Espírito Santo tão eficazmente, tão devotamente, tão sutilmente, tão docemente e tão claramente e intuitivamente expôs e falou a palavra de Deus, que todos os que estavam em consistório, conquanto usassem línguas diversas, claramente lhe entendiam as palavras distintamente como se ele tivesse falado na língua de cada um.

Santo Antônio, Ambrose Benson, catedral de Segovia
E todos estavam estupefatos e lhes parecia que se havia renovado o antigo milagre dos apóstolos no tempo de Pentecostes, os quais falavam por virtude do Espírito Santo em todas as línguas.

E diziam juntos um para o outro com admiração:

‒ “Não é de Espanha este que prega? E como ouvimos nós em seu falar o nosso idioma?”

O papa semelhantemente considerando e maravilhando-se da profundeza das palavras dele, disse:

‒ “Este é verdadeiramente arca do Testamento e armário da Escritura divina”.

Em louvor de Cristo. Amém.



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domingo, 12 de novembro de 2023

“Como Deus, fez vinho da água” (Cantiga 23)

As bodas de Caná. Gerard David (1460 — 1523), Museu do Louvre, Paris
As bodas de Caná.
Gerard David (1460 — 1523), Museu do Louvre, Paris
Luis Dufaur
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Cantiga 342 & 127 do rei de Castela Alfonso X, o Sábio. Cantigas de Santa María

Esta Cantiga conta como Santa Maria mudou o vinho num tonel, por amor à boa dama da Bretanha.


“Da mesma maneira que Deus fez vinho da água nas Bodas de Caná, assim também depois Sua Mãe multiplicou bem o vinho”.

Sobre isto vos contarei um milagre que Ela fez na Bretanha, para uma dona muito sem mal, que Deus tinha dotado de bons costumes e habilidades, e que quis ficar na amizade d’Ela como um bom vizinho.

Dentre todas as bondades que essa dona tinha, sobressaía que confiava muito em Santa Maria, a qual por causa disso a impediu que passasse vergonha ante o rei que, no meio de uma viagem, parava em sua casa.

A dona, querendo servi-lo, esteve muito ocupada e deu-lhe carne e peixe, pão e cevada, mas estava muito desprovida de bom vinho e só tinha um pouquinho num pequeno barril.

Sua preocupação redobrava, porque embora ela quisesse comprar em sua região, não havia quem tivesse, nem que o vendesse por dinheiro ou por qualquer outra coisa que lhe oferecessem.

Só lhe restava implorar à Mãe do Menino Deus, e com esta esperança foi até a igreja e disse:

“Ai, Santa Maria, pela vossa misericórdia fazei-me sair de uma vergonha tão grande, porque não poderei mais me vestir nem com lã nem com linho”.

De imediato sua oração foi ouvida, e ao rei com toda sua companhia foi servido um bom vinho, e na adega não faltou porque acharam em abundância, tanto para o mais rico quanto para o mais pobre.






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domingo, 5 de novembro de 2023

Rico sem trabalhar

O tesouro do castelo de Hohenstein
O tesouro do castelo de Hohenstein
Luis Dufaur
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Ainda sobram umas ruínas do castelo de Hohenstein, na Alemanha.

Elas não dão ideia da grandeza daquela cidadela medieval, e da riqueza de seu senhor.

Mas, em volta dela, corre ma lenda. Ela conta que:

“Há já muito tempo, naquela densa floresta, um lenhador trabalhava duramente perto da cidadela.

“O lenhador, entretanto, acariciava um sonho. Ele até falava em alta voz, quando ninguém o ouvia:

‒ “Que tal ficar rico sem trabalhar? Uma sorte, um inesperado, e a gente acha um tesouro. Ah! Nunca mais trabalhar... que bom!

“O diabo que andava por ali perto pegou a coisa no ar e aprontou uma das dele.

“Quando os últimos raios de sol desapareceram por trás da colina, o lenhador parou seu serviço e pegou o caminho de volta.

“O demônio tinha ali montado uma arapuca.

“Como de pura sorte o lenhador julgou perceber entre as ruínas do castelo uma curiosa pilha de materiais transparentes e desconhecidos.

“Pareciam com asas de besouros, insetos que havia em grande quantidade naquele bosque.

“Ele achou estranho, mas ele estava certo que ninguém acreditaria se contava ter achado isso.

Ruínas do castelo de Hohenstein
Ruínas do castelo de Hohenstein
“De fato, os besouros não se reúnem nesse número para morrerem juntos.

“Ele, então coletou a mancheia essa estranha matéria e a colocou delicadamente na sua bolsa.

“Mas, eis que se afastando das ruínas, a matéria começou a pesar cada vez mais.

“Sem dúvida, a fadiga de uma jornada particularmente difícil e longa fazia sentir seus efeitos.

“Ele já não conseguia caminhar mais com aquele peso todo. Não podia mais!

“Se livrar desse peso tornou-se sua maior preocupação.

“Perto do fosso da antiga muralha, ele jogou todo o conteúdo de sua bolsa.

“Nessa hora, em lugar de asas de besouro caíram belas moedas de oro que sumiram entre as pedras e as fendas do fosso.

“Os olhos do lenhador abriram-se enormes, ele estava fascinado pela descoberta!

“Ouro! Rico... riquíssimo... sem trabalhar... por um simples acaso... um mero achado...!

“Ele tentou tudo o que podia para recuperar as moedas, remexeu a terra, levantou as pedras, arrancou o capim...

Ruínas do castelo de Hohenstein
“Mas tudo foi em vão! As moedas se escondiam entre as ruínas do castelo.

“Ele então lembrou aquela pilha esquisita ao lado do caminho e voltou.

“Ele ficaria rico... para sempre... moedas de ouro.... muitas moedas... muito ouro...

“Ele voltou a procurar as asas de besouro. Mas, ... não ficava nada.

“Tudo havia desaparecido.

“Ele não quis acreditar.

“O sonho dele era mais forte do que tudo.

“Começou a procurar, procurar, procurar...

“Desde aquele dia, quando a noite começa a descer perto das ruínas fantasmais do castelo, os passeantes perdidos contam que uma figura estranha remexe o fosso da velha praça forte.

“Eles não sabem, mas é o lenhador que sonhava de olhos abertos em ficar rico sem trabalhar e que há séculos escava as ruínas à procura de seu cobiçado tesouro.”





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domingo, 29 de outubro de 2023

O cavaleiro de Tundale visita o inferno


Luis Dufaur
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O cavaleiro irlandês Tundale aprendeu uma lição quando soldado, que nunca esqueceu.

Tundale era um bravo homem e bom soldado, mas não levava uma vida muito boa.

Um dia, enquanto estava sentado a uma mesa, caiu inconsciente e ficou naquele estado por três dias.

Quando recobrou consciência, era um homem mudado.

Começou a louvar a Deus e a fazer penitência por todas coisas más que tinha feito.

Por que mudança tão repentina?

Ele contou a seus amigos que, enquanto estava inconsciente, sua alma pareceu deixar o corpo, e ele se achou rodeado de demônios que queriam levá-lo para o inferno.

Os demônios atormentavam-no terrivelmente, até que seu anjo da guarda apareceu e expulsou-os.

Então o anjo conduziu-o através do inferno e purgatório, mostrando-lhe pessoas que tinha conhecido quando vivas.

Tundale disse a seu anjo o quanto ele tinha padecido nas mãos dos demônios, e o anjo lhe respondeu: “Tenho estado sempre ao seu lado, mas você nunca me pediu ajuda”.




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