domingo, 8 de setembro de 2024

Não ouvem a Deus?

São Bernardino de Siena, pregando en Siena, Ansano Pietro di Mencio (1405 - 1481), Museo dell'Opera Metropolitana del Duomo, Siena
São Bernardino de Siena pregando em Siena,
Ansano Pietro di Mencio (1405 - 1481),
Museo dell'Opera Metropolitana del Duomo, Siena
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



Eis mais um conto edificante de São Bernardino de Siena:


Houve um homem que tinha um vinhedo e ali plantou uma figueira. E era uma muda dessas que dão bons figos, como os de Massa.

Um ano depois, chegou até o pé que então tinha crescido e não achou figo algum.

Ele voltou no ano seguinte levando uma cestinha e acreditando que encontraria pelo menos alguns. Mas nada!

E pensou: “Oh, ainda lhe falta crescer!”

No terceiro ano voltou desta vez com uma canastra grande dizendo para si: “Ela já deve ter crescido e deve ter dado muitos figos”.

Chegou até a figueira e não achou nenhum fruto.

Chamou então ao cuidador e lhe disse: “Esta figueira não é boa para nada: corta-a porque ocupa uma boa área”.

E o cuidador respondeu: “Não! Deixemo-la ainda este ano sem cortá-la; eu trabalharei a terra em volta, limparei o capim em volta, para ver se acaba dando. Mas, se no próximo ano não dá frutos eu a cortarei”.

Nós podemos dizer que a cidade de Siena é como essa grande figueira.

No primeiro ano que eu cheguei, com a palavra de Deus vos convidei a produzir bons frutos para Altíssimo.

No segundo ano eu viajei acreditando que produzirias melhores frutos de quando eu estava aqui.

Mas, vós agistes pior do que nunca.

No terceiro ano voltastes a serem piores ainda.

E agora estamos neste ano e eu vos acho pior dispostos a render frutos, e agindo mais mal do que nunca.

Deus aguardou e aguardou, e vós não produzistes fruto algum em seu louvor, pelo contrário fazeis todas as coisas contrariando sua vontade.

E por isto Deus está indignado. Acreditai que Ele pensa em cortar essa árvore porque não quer render frutos, e já aguardou tempo demais.

Porém, se Ele tiver tanta paciência de aguardar mais um quarto ano, e se vós não lhe ofereceis fruto algum, oh Siena! Presta atenção, presta atenção, presta atenção!!!

Podereis tentar interpretar de outro modo esses quatro anos em que Deus aguardou vossa conversão, anos em que sempre Ele atendeu vossas necessidades pensando em que haveríeis de mudar de costumes.

No primeiro ano Deus Vos encheu de bens corporais, Ele segurou as doenças mortais e muitas outras adversidades.

Incendio en la Torre del Mangia durante Palio de Siena
Incêndio na Torre del Mangia durante Palio de Siena
No segundo ano Vos deu também muitos bens temporais: trigo, vinho, azeite, gado e toda espécie de valores materiais.

E Vos deu todas essas coisas para que vos lhe ofereçais vossos frutos de virtudes; e vós fostes os mais duros que pudestes.

No terceiro ano Vos deu dons espirituais. Quantos pregadores excelentes vós tivestes, médicos corajosíssimos vieram até vossa cidade pelo bem de vossa saúde!

Acreditai no que eu vos digo: Deus aguardou muito e Ele não quer esperar mais. Se continuais assim sem dar frutos de boas obras e costumes Deus vai dizer:

“Cai, cai, povo maldito: tu não tendes escusa. Eu fertilizei tua terra, foste advertido e advertido. Te foi mostrado que teu vicio é o pecado”.

Sabeis o que Deus fará no momento que não quererá aguardar mais?

Ele apodrecerá a terra e espalhará a mortalidade; morrereis de doença como cães, e será tão grande a mortalidade que faltarão as pessoas, e ninguém conseguirá governar ao outro.

Mas, nem isto será suficiente.

Ele enviará uma guerra tão grande que nem se poderá trabalhar as terras e não colhereis nem trigo nem vinho, e virá depois uma carestia tão grande que vereis vossos próprios filhos morrerem de fome.


São Bernardino de Siena foi autor de muitas fábulas moralizadoras. Benvenuto di Giovanni (1436 - 1509-1518)
São Bernardino de Siena
fez sermões e fábulas moralizadoras.



(Autor: São Bernardino de Siena, “Apologhi e Novellette”, Intratext)

(São Bernardino de Siena (1380 — 1444) pregador e missionário franciscano, conhecido como "Apóstolo da Itália". Famoso já em seu próprio tempo por suas fortes pregações em praças e igrejas, principalmente contra a homossexualidade, infanticídio, bruxaria, feitiçaria, apostas, judeus e usuras. Foi um dos maiores propagadores da devoção ao Santíssimo Nome de Jesus e sistematizador da economia escolástica. Fonte: Wikipedia).



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domingo, 25 de agosto de 2024

A visão de frei Rufino

Diabo tentando ao bom religioso
Diabo tentando ao bom religioso
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Eis mais um conto edificante de São Bernardino de Siena:

(São Bernardino de Siena (1380 — 1444) pregador e missionário franciscano, conhecido como "Apóstolo da Itália". Famoso já em seu próprio tempo por suas fortes pregações em praças e igrejas, principalmente contra a homossexualidade, infanticídio, bruxaria, feitiçaria, apostas, judeus e usuras. Foi um dos maiores propagadores da devoção ao Santíssimo Nome de Jesus e sistematizador da economia escolástica. Fonte: Wikipedia).


Quantas mulheres conheço que dizem:

“Oh! Que bela visão tive esta noite. Eu vi assim e assim e me foi dito que ganharei tal coisa e tal outra!”

A outra diz: “Para mim me apareceu a Virgem Maria”.

Mais uma diz: “Para mim apareceu um anjo”.

Mulher medieval tendo visões
Mulher medieval tendo visões
E a outra diz: “Para mim apareceu a lua”.

Porém, para outra foi o sol.

E ainda outra: “para mim foi uma estrela que entrou em meu quarto que ficou todo iluminado”.

Sabeis o que eu vos digo:

“Tudo isso é doidice que te entrou na cabeça ou tal vez é nada, mas pensar nisso vai te fazer mal, se tu não sabes te resguardar.

“Sabes por que? Porque eu não acredito que sejas melhor do que Frei Rufino, companheiro de São Francisco, para quem apareceu o diabo com forma de crucificado e lhe disse: ‘Podes estar certo que esse teu Francisco é um hipócrita’.

Frei Rufino, entretanto, era santo, e de tal maneira soube dominar esse maldito diabo, que recusou tudo pela devoção que tinha a São Francisco.

E o espírito das trevas disfarçado teve que voltar muitas vezes.

São Francisco percebeu as mudanças em Frei Rufino e foi saber as razões até que lhe perguntou: “Não tiveste alguma visão?”

Mas Rufino não queria contar o acontecido, por isso São Francisco voltou a interrogá-lo muitas vezes.

Até que por fim, ele contou que tivera uma visão nobilíssima. E contou que o Crucifixo lhe falava.

Então, São Francisco, imaginando o que tinha acontecido, lhe disse: “Olha, não acredites porque te fará mal pensar nisso, porque é o diabo que faz isso”.

Santa Hildegarda de Bingen
Santa Hildegarda de Bingen
“Sim, sim, é o diabo que se transforma com forma de crucificado. Ele que se afastava da Cruz nos tempos de Cristo, agora monta na Cruz de Cristo!”

São Francisco então lhe ensinou: “Sabes o que fazer quando ele te atacar? Sabei que ele odeia muito a humildade. Quando aparecer cuspe em seu rosto. Se é o diabo, ele fugirá. Mas se for Deus, receberá isso como um bem considerando que ages com boa razão.

“Se for o diabo, fugirá logo, porque ele não pode ter humildade suficiente para sofrer qualquer injúria”.

Frei Rufino agiu assim e quando o diabo voltou a lhe aparecer da mesma forma, imediatamente o frade lhe cuspiu no rosto.

O demônio fugiu na hora deixando um mal cheiro terrível a ponto de não poder se ficar no local.

Tudo o que fez o pai da mentira foi para enganar aquele frade.

“Por isso te digo: presta atenção no que fazes. Quando te vier uma visão ou coisa do gênero, não acredites muito rapidamente no que te mostra.

“Antes de acreditar verifica primeiro se o que diz está demonstrado”.




São Bernardino de Siena foi autor de muitas fábulas moralizadoras. Benvenuto di Giovanni (1436 - 1509-1518)
São Bernardino de Siena
compôs fábulas moralizadoras.





(Autor: São Bernardino de Siena, “Apologhi e Novellette”, Intratext)


(São Bernardino de Siena (1380 — 1444) pregador e missionário franciscano, conhecido como "Apóstolo da Itália". Famoso já em seu próprio tempo por suas fortes pregações em praças e igrejas, principalmente contra a homossexualidade, infanticídio, bruxaria, feitiçaria, apostas, judeus e usuras. Foi um dos maiores propagadores da devoção ao Santíssimo Nome de Jesus e sistematizador da economia escolástica. Fonte: Wikipedia).



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domingo, 14 de julho de 2024

Dona Truã

Leiteira normanda em Greville, Jean-François Millet (1814 – 1875),
Los Angeles County Museum of Art
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Certa feita, o Conde Lucanor falou a Patrônio desta maneira:

— Patrônio, um homem veio me propor uma coisa e me mostrou o meio de consegui-la.

Eu posso te garantir que traz tantas vantagens que, se com a ajuda de Deus sair bem, vai me ser de grande utilidade e proveito, pois os benefícios se somam uns aos outros e no fim serão muito grandes.

Então contou a Patrônio tudo quanto sabia.

Após ouvi-lo, Patronio respondeu ao conde:

— Senhor Conde Lucanor, sempre ouvi dizer que o prudente fica dentro das realidades e desdenha as fantasias, pois muitas vezes àqueles que vivem delas lhes acontece o mesmo que a dona Truã.

O conde perguntou o que tinha acontecido com ela.

— Senhor conde – disse Patrônio –, havia uma mulher chamada dona Truã que era mais pobre do que rica. Certo dia ela se dirigia ao mercado com uma panela cheia de mel na cabeça.

Enquanto ia pelo caminho, começou a pensar na venda do mel. E com o que ganharia, compraria um monte de ovos. E dos ovos nasceriam galinhas. E com o dinheiro das galinhas compraria abelhas.

E assim foi comprando e vendendo, sempre com lucro, até que se imaginou mais rica que todas as suas vizinhas.

Depois pensou que, sendo tão rica, casaria bem seus filhos e filhas, e andaria pelas ruas na companhia dos genros e noras.

E pensou também que todos comentariam a sua boa sorte, pois tinha tantos bens apesar de ter nascido muito pobre.

Pensando nisso, começou a rir com alegria pela sua boa sorte. E rindo, rindo, bateu com a sua fronte, a panela caiu no chão e quebrou em mil pedaços.

Vendo a panela arrebentada e o mel espalhado pelo chão, Dona Truã começou a chorar e a se lamentar muito amargamente, porque tinha perdido todas as riquezas que sonhava obter da panela se esta não tivesse se arrebentado.

Por ter posto toda a sua confiança nas fantasias, não pôde fazer nada daquilo que tanto esperava e desejava.

Vós, senhor conde, se quiserdes aquilo que vos dizem e que vós achais que um dia será realidade, procurai sempre que se trate de coisas razoáveis, e não de fantasias ou imaginações duvidosas e vãs.

E quando fordes iniciar algum negócio, não arrisqueis algo muito vosso, cuja perda vos possa ocasionar dor, para tirar um proveito baseado apenas em vossa imaginação.

O conde ficou muito aprazido com o que lhe falou Patrônio, agiu segundo a sua narrativa e assim lhe foi muito bem.

E tendo o infante Don Juan ouvido e gostado deste conto, fez que fosse escrito neste livro, acrescentando dois versos por ele compostos:

Nas realidades certas vós podeis confiar,

mas das fantasias deveis vos afastar.


El conde Lucanor
El conde Lucanor é um livro narrativo da literatura de Castela medieval, escrito entre 1330 e 1335 pelo infante Don Juan Manuel, Príncipe de Villena.
O título completo e original em castelhano medieval é Libro de los enxiemplos del Conde Lucanor et de Patronio (Livro dos exemplos do conde Lucanor e de Patronio).
O livro compõe-se de cinco partes, sendo a série de 51 exempla ou contos moralizantes a mais conhecida.


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domingo, 30 de junho de 2024

Por que Deus quis ser Filho da Virgem

Igreja de Fuentidueña, Segovia, Espanha.
Igreja de Fuentidueña, Segovia, Espanha.
Luis Dufaur
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Cantiga 38 do rei de Castela Alfonso X, o Sábio. Cantigas de Santa María

Esta cantiga conta como a imagem de Santa Maria estendeu o braço e segurou seu Filho, que ia cair devido à pedrada que Lhe jogou um saltimbanco.




Posto que Deus quisesse ser Filho da Virgem, para nos salvar a nós pecadores, por isso eu não me maravilho que Lhe doa ver quem O faz sofrer.

Porque Ela e seu Filho se acham unidos pelo amor, de maneira que nunca ninguém por nada poderá separá-los.

Portanto, dão prova de serem muito néscios aqueles que vão contra Ela, acreditando que Ele não se sente concernido.

Isso fazem os malvados, que não querem compreender esse amor, e que a Mãe e o Filho estão de acordo em fazer o bem e castigar o mal.

Foi por isso que, há já muito tempo, aconteceu de o conde de Poitiers querer entabular batalha contra o rei da França.

Para isso reuniu suas tropas em Chateauroux, num mosteiro de monges enclaustrados, que o conde mandou dispersar porque suspeitava que fossem entrega-lo aos franceses.

Enquanto os monges estavam sendo expulsos, pessoas muito más foram se meter no mosteiro: vagabundos, jogadores de dados, e outros, que levavam vinho para vender.

E entre esses desventurados havia um que, quando começava a perder, injuriava os santos e a Rainha sem igual.

Mas uma mulher, que havia entrado na igreja por causa de seus pecados, foi até a sacristia onde os monges costumavam revestir-se dos sagrados ornamentos quando iam dizer as missas.

Ali estavam bem entalhados na pedra Deus e sua Mãe, logo se ajoelhou diante deles e começou a se culpar de seus pecados.

Virgem das Cruzadas, Puy-de-Dome, França.
Virgem das Cruzadas, Puy-de-Dome, França.
Quando o saltimbanco a viu, voltou-se com olhar irado e começou a maltratá-la, dizendo:

– “Velha, estão muito enganados os que querem acreditar nas imagens de pedra; e para que vejas quão enganados estão, eu vou espancar esses ídolos pintados.”

E logo foi lhes jogar uma pedra, que acertou no Filho, que tinha os dois braças alçados em atitude de bênção.
E embora não tenha quebrado os dois, um logo caiu. Mas a Mãe pôs sobre ele os braços para levantá-lo, deixando cair a flor que tinha entre os dedos.

Maiores milagres ainda Deus mostrou ali, porque fez correr sangue brilhante da ferida do Menino Jesus sobre os panos dourados que vestiam a Mãe, que ficou com o busto nu.

Embora Ela não gritasse, começou a chorar e voltou os olhos tão irados, que todos os que podiam vê-la ficaram tão espantados que nem ousavam olhá-la.

E os demônios se reuniram logo contra aquele que tinha feito essa coisa, e porque eram homicidas bem pagos foram logo por cima dele e o mataram.

Outros dois saltimbancos endemoninhados que estavam ali tentaram esconder o corpo do facínora morto.

Sem embargo, os endiabrados com grande raiva começaram a ser todos consumidos e se afogaram no rio, porque o demônio não lhes deu trégua, para que fossem escarmentados todos quantos disto ouvissem falar.

Quando o conde soube o que tinha acontecido, acompanhado de cavaleiros armados foi se apear diante da igreja, e um desses cavaleiros mais atrevidos falou assim:

“Isto me faz doer o coração; ide procurar a pedra e trazei-ma, para ver se Ela quererá me sarar da pedra que entrou, rachando meu queixo, e por cujo conserto tive que pagar muitos dinheiros em vão”.

Quando isso falou, pôs sob a imagem suas pernas, lados e cabeça, e logo seus ossos ficaram bem soldados e ele expeliu uma pedra pela boca.

Vendo isso todos ficaram maravilhados, e ele colocou a pedra diante da imagem sobre o altar, sendo testemunhado por homens honrados.





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domingo, 16 de junho de 2024

São Bernardo fez o demônio servir de roda

São Bernardo de Claraval. Heiligenkreuz, Áustria
Luis Dufaur
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São Bernardo voltou certa vez à sua aldeia natal – Fontaine, perto de Dijon – para encontrar junto à lagoa de sua infância toda a calma e toda a força de que necessitava.

Com efeito, através de sua eloquência e da força de convicção de sua fé, ele deveria arrastar para a segunda Cruzada tudo quanto na Europa havia de melhor na nobreza e nas classes populares de boa vontade.

Por isso ele precisava de um momento de contemplação e repouso em sua terra natal.

Tanto mais quanto havia tempo que inquietações e dúvidas o assaltavam e atormentavam, dando a impressão de que uma diabólica mão pesava-lhe sobre as costas, queimando-a.

Uma voz lhe murmurava palavras desencorajadoras e anunciava que seu projeto iria fracassar.

Imagens ora tentadoras, ora aterrorizantes desfilavam diante de seus olhos.

São Bernardo lutava contra o demônio com todo o poder da oração, sendo nisso ajudado pela tranquilizadora paisagem de seus jovens anos.

A serenidade voltou e ele decidiu se reunir com o já numeroso magote de companheiros de fé e de combate, com os quis pegou a estrada de Vézélay.

Os caminhos naqueles tempos eram ruins e difíceis, as viagens lentas e penosas, o perigo acompanhando os viajantes como se fosse parte de sua própria bagagem.

O demônio queria impedir a pregação da Cruzada
Entretanto, incidente algum de importância perturbou o avanço do comboio que se aproximava do ponto de chegada.

Ora, uma tempestade de uma violência extraordinária pegou-os uma noite num vale muito estreito.

Um ruído infernal descia como que rolando de pedra em pedra, torrentes de lama ameaçavam a todo o momento levar as carruagens, os bois e os cavalos.

Os viajantes encontraram refúgio numa gruta onde acabaram cedendo ao sono.

São Bernardo ficou só sob a tempestade a fim de tranquilizar os animais.

O santo tentou desentalar uma das charretes que estava atolada na lama, mas enquanto o fazia uma de suas rodas quebrou completamente.

Um riso estridente se fez ouvir nas suas orelhas e ele percebeu nas costas o sopro ardente que ele conhecia bem.

O diabo não abandonava sua presa e naquela noite mostrava-se mais empedernido.

E o diabo mordeu o rabo e foi fazendo o trabalho
da roda quebrada
São Bernardo fez então lentamente o Sinal da Cruz e com voz forte deu ordem ao demônio para ocupar o lugar da roda quebrada.

Uivando de dor e de raiva, o espírito mau não pôde resistir à vontade daquele que agora era seu senhor.

Mordendo a própria cauda, ele assumiu a forma circular e tirou com suas forças a charrete entalada.

O amanhecer despontou calmo e luminoso sobre o comboio já disposto em ordem e todos retomaram a estrada.

Apenas um gemido melancólico proveniente de uma roda ritmava a marcha: esta foi a única lembrança dos furores da noite.

No dia seguinte, São Bernardo atingiu o alto da colina de Vézélay e ali pregou a Cruzada com o brilho que a História registrou.




(Fonte: Sophie e Béatrix Leroy d’Harbonville, “Au rendez-vous de la Légende Bourguignonne”, ed. S.A.E.P., Ingersheim 68000, Colmar, França, págs. 59-60)


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