Sainte-Enimie (em francês), ou Santa Enimia. As flores de lys no vestido indicam sangue real |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No atual departamento de Lozère, ao longo do rio Tarn, encontra-se a vila medieval de Santa Enimia encravada nas rochas.
Seu nome está associado com uma princesa que não poderia deixar este lugar.
E seu estranho nome está ligado a uma legenda.
O fato aconteceu há muito tempo, por volta do ano de 615.
Enimia (ou Emma) foi uma princesa merovíngia, filha do rei Clotário II (584 - 629) e irmã do rei Dagoberto I (602/605 - 638/639).
Ela tinha uma beleza inigualável e atraia muitos pretendentes. Mas Enimia preferia se dedicar a Deus.
Infelizmente, como muitas vezes acontece, seu pai, o rei Clotário II decidiu em sentido contrário. Ele mandou-a chamar na sala e disse:
‒ “Filha, eu tenho observado que Você recusa todos os candidatos!”
‒ “Mas, pai, eu .......”
‒ “Deixe-me falar!”, disse o rei retorcendo seu belo bigode.
‒ “Sim, meu pai", respondeu a nossa Enimia olhando para baixo.
A ermida de Santa Enimia hoje |
‒ “Mas, pai, eu ...”
‒ “Simplesmente, eu decido que você fique noiva de um dos meus barões. Assim seja!”
Apesar das lágrimas e dos repetidos pedidos para seu amado pai, ela não obteve a anulação da decisão real.
Desesperada, ela refugiou-se numa pequena capela e rezou a Deus para salvá-la de um casamento que ela não queria.
E eis que ela pegou uma praga, tal vez lepra, que a desfigurou e afastava dela todos os candidatos.
A doença era tão terrível que ela decidiu levar uma vida recolhida e deixar crescer o cabelo para esconder a doença.
Ela fechava-se numa sala escura, onde dormia e rezava.
Curiosamente, suas noites eram perturbadas por um sonho que voltava continuamente.
Uma voz aconselhou-lhe fazer abluções na água da fonte milagrosa de Burle.
Certa manhã, ela decidiu ir à procura dessa fonte maravilhosa.
Depois de uma longa viagem, ela encontrou-a no oco de um vale desconhecido e desabitado.
A princesa leprosa aproximou-se da beira da verde água e, apesar do frio da água, mergulhou inteiramente.
O milagre, então, aconteceu. Ela saiu da água resplandecendo beleza e recuperou o sorriso que tinha perdido havia tantos meses.
Enimia estava em condições de começar a viagem de volta.
Ermida de Santa Enimia. A Santa esmaga o dragão. |
Ela voltou à fonte e tomou banho muitas vezes.
Porém, cada vez que comparecia diante de seu pai, a horrenda doença voltava a cobrir seu corpo.
‒ “É um sinal divino”, pensou ela. “Eu devo morar junto à fonte”.
Foi assim que ela decidiu estabelecer-se perto da fonte de Burle.
Quando ela podia, ia rezar numa caverna que fica pouco acima da pequena aldeia.
Em torno da gruta da princesa começaram a acontecer prodígios e milagres.
E sua fama de santidade ficou tão grande que ainda muitos séculos depois, os romeiros vão até a aldeia para implorar suas bênçãos e mercês.
Conserva meu corpo puro de toda desonra,
De maneira que eu nunca possa provar esse prazer vil e malcheiroso
Para que me possas possuir como Vós me desejais
Casta e pura segundo Vossa vontade.
Amem.
Garda mon cors de dissonor,
Que no’m puescha penre talen
D’aquest deliech lait e puden,
Per so que tu’m pueschas aver
Casta, munda al tieu plazer.
Original em provençal: Bertran de Marseille, “La vie de Sainte Énimie”, poème provençal du XIIIe siècle; pág. 26. https://archive.org/details/laviedesainten00bertuoft/page/6/mode/2up?q=dolsor
Bertran de Marseille, "La vida de santa Enimia", La Canourgue, La Confrérie, 2001, 112 p. (ISBN 2-9516861-0-2), https://fr.wikipedia.org/wiki/Bertran_de_Marseille)
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