domingo, 30 de julho de 2023

“De muitas formas Santa Maria favorece àqueles que são dEla”

Nossa Senhora de Cluny Abadia Saint Denis, Paris
Nossa Senhora de Cluny
Abadia Saint Denis, Paris
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Cantiga 299 do rei de Leão e Castela Alfonso X, o Sábio. Cantigas de Santa María
Como Santa Maria apareceu a um frade e lhe ordenou dar ao rei a imagem dEla que ele levava

Sobre isso eu queria vos mostrar um milagre, e vos peço ouvir-me com boa atenção, pois por meio dele vos ensinarei a servir Àquela que é um prodígio de bem.

Isto aconteceu a um rei que servia a essa Senhora em tudo quanto podia e se aprazia grandemente louvando-A: por isso lhe aconteceu quanto vos narrarei.

Um frade da Ordem da Estrela levava em seu peito uma imagem em marfim da Virgem que nos guia com seu Filho nos braços (Santa Maria de Espanha), na qual ele tinha muita fé.

Uma noite, deitado em seu leito e já adormecido, viu vir a Mãe de Deus que lhe dizia:

— ”Por que é que levas essa imagem, é um disparate levá-la; vai procurar o rei e a dá a ele de presente; isso me aprazeria muito e farias muito bem nessa obra”.

Tendo dito isso, Ela se afastou, e o frade contou o fato aos outros irmãos que replicaram:

— “Isso é um sonho que não faz sentido”.

Mas ele, ouvindo isso, ficava cada vez mais decidido a dá-la ao rei, e após se repetir o fato três vezes, Ela veio lhe dizer com grande despeito:

— ”Como ousas não dar ao rei aquilo que Eu te mandei dar, e que Eu te agradeceria? Dá a ele, se não sairás prejudicado”.

O frade, antes de completar o terceiro dia, foi contar o acontecido a seu mestre e superior, que lhe disse:

— ”Foi estúpida tua resistência; essa imagem não te convém. Ela está bem para um rei; por isso aconselho-te que lha dês, pois ele saberá honrá-la devidamente, e procura para ti uma mais apropriada”.

E o frade saiu procurando o rei, que estava ouvindo missa.

Tendo-o achado, deu-lhe a imagem, pelo que o rei muito se alegrou de verdade, e, levantando-a com as duas mãos, agradecia-lhe pelo sucedido, abençoava seu santo nome, dizendo: “Bendita sejas, amém”.





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domingo, 23 de julho de 2023

Quando o rei Ricardo
pulou no mar para lutar contra os mouros

El Conde Lucanor, ilustração Víctor G. Ambrus
El Conde Lucanor, ilustração Víctor G. Ambrus.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Certa feita, o conde Lucanor afastou-se com seu conselheiro Patronio e lhe falou assim:

– Patronio, eu confio muito em seu juízo. E sei que você sabe aconselhar como nenhuma outra pessoa no mundo. Por isso vos peço aconselhar-me como melhor sabes no que vou dizer agora.

Você sabe muito bem que não sou mais jovem e, desde que nasci até agora, cresci e vivi sempre envolvido em guerras, às vezes contra os mouros, outras vezes com os cristãos, e na maioria delas contra reis, senhores, ou vizinhos.

Em minhas lutas com meus irmãos cristãos, embora eu tentasse que a culpa não fosse minha, foi inevitável que muitos inocentes recebessem um grande dano.

Fiz penitência por isso e por outros pecados que cometi contra Deus Nosso Senhor. Porém, vejo que nada nem ninguém neste mundo pode ter certeza de que hoje não vai morrer.

E tenho certeza de que, posta a minha idade, não vou viver muito mais tempo e sei que devo comparecer diante de Deus, que é juiz que não se deixa enganar por palavras.

É um Juiz que julga cada um por suas boas ou más ações. E eu tenho certeza de que, se Deus achar em mim pecados que merecem o castigo eterno, não poderei evitar as dores do inferno, e não há nada de bom neste mundo que possa aliviar a dor eterna.

No entanto, também sei que se Deus se mostrar misericordioso e me incluir no número dos seus no Paraíso, não há prazer ou alegria deste mundo que possa se igualar a essa.

E, como Céu ou no inferno já não há como mudar de lugar nem fazendo obras, peço-vos que, de acordo com o meu estado e dignidade, você me aconselhe a melhor maneira de fazer penitência por meus pecados e obter a graça diante de Deus.

– Senhor Conde, disse Patronio, muito me agradam vossas razões. E especialmente porque vos aconselhais de acordo com o vosso estado. Agrada-me muito ver vosso desejo de fazer penitência pelos vossos pecados, de acordo com o vosso estado e dignidade.

Tende como certo que se vós, Conde Lucanor, quisésseis deixar vosso estado e entrar em religião ou fazer vida retirada, não poderíeis evitar que vos acontecesse uma destas duas coisas:

A primeira é que seríeis muito mal julgado pelas pessoas, pois todos diriam que vós fazeis isso por pobreza de espírito e porque não vos apraz viver entre os bons;

A segunda, é que vos seria muito difícil suportar as asperezas e sacrifícios da vida conventual, e que se tivésseis de abandoná-la ou vivê-la sem respeitar a Regra como se deve, causar-vos-ia grande dano à alma e muita vergonha e perda de vossa boa fama.

Como vejo que vós tendes muito boas intenções, contar-vos-ei o que Deus revelou em vida a um santo eremita sobre o que aconteceria com ele e com o Rei Ricardo da Inglaterra.

O conde pediu-lhe então para lhe dizer o que aconteceu.

– Senhor Conde, disse Patronio, houve um eremita que teve vida muito santa, que era muito bom e fez muitas penitências para alcançar a graça de Deus.

E o Senhor foi misericordioso para com ele e lhe prometeu entrar no reino dos céus.

O eremita estava muito grato por essa revelação divina e, como estava certo de sua salvação, implorou a Deus mostrar-lhe quem seria seu companheiro no Paraíso.

Nosso Senhor lhe tinha dito pelo intermédio de um anjo que não deveria pedir uma coisa dessas, mas tanto insistiu o eremita que o Senhor concordou em lhe dar uma resposta.

Dessa maneira lhe fez saber por um anjo que o rei da Inglaterra e ele estariam juntos no Paraíso.

Tal resposta não foi do agrado do eremita, pois este bem sabia que o rei estava sempre em guerras e tinha matado, roubado e deserdado muitos, e levado uma vida oposta à sua, parecendo muito distante do caminho da salvação.

Por tudo isso o eremita ficou muito chateado.

Quando Deus nosso Senhor viu isso, enviou-lhe uma mensagem por meio do anjo para não reclamar ou ficar surpreso com o que Deus tinha dito, e que tivesse certeza de que o Rei Ricardo conquistou mais honra e mais prêmio diante de Deus com um só salto de cavalo do que o eremita com todas as suas boas ações.

O eremita ficou surpreso e perguntou ao anjo como podia ser.

O anjo então lhe contou que os reis da França, da Inglaterra e da Navarra tinham ido para a Terra Santa. E quando chegaram ao ponto do desembarque, todos armados para empreender a conquista, viram nas margens tantos mouros que duvidavam em descer.

Então o rei da França pediu ao rei da Inglaterra para vir a seu navio a fim de decidirem o que fariam.

O rei da Inglaterra, que estava a cavalo, após ouvir o mensageiro, mandou responder ao rei da França que, como infelizmente tinha injustiçado e ofendido a Deus muitas vezes em sua vida e sempre Lhe tinha pedido a oportunidade de fazer as pazes e apresentar desculpas, via que, graças a Deus, tinha chegado o dia que tanto esperava.

Porque, se morria, como havia feito penitência antes de deixar sua terra e tinha muitos remorsos, estava certo que Deus teria piedade de sua alma, e se os mouros fossem derrotados, seria para honra de Deus, e como bons cristãos eles só se poderiam se sentir muito ditosos.

Ricardo III, Coração de Leão. Estátua frente ao Parlamento de Londres. Inglaterra.
Ricardo III, Coração de Leão. Estátua frente ao Parlamento de Londres. Inglaterra.
E assim que disse isso, confiou seu corpo e sua alma a Deus, O invocou em sua ajuda fazendo o sinal da cruz, e convidou seus soldados a segui-lo.

E picando seu cavalo com as esporas, saltou para o mar em direção à costa onde os mouros estavam.

Embora tudo acontecesse muito perto do porto, o mar no local era muito profundo, de modo que o rei e seu cavalo foram cobertos pela água e pareciam não ter salvação.

Porém Deus, que é onipotente e muito piedoso, lembrando do que prometeu nos Evangelhos de que não procura a morte do pecador, mas que este se arrependa e viva, ajudou nesse perigo o rei da Inglaterra, impedindo sua morte carnal, concedendo-lhe vida eterna e salvando-o do afogamento.

O Rei, em seguida, atirou-se contra os mouros.

Quando os ingleses viram seu rei em combate, pularam todos no mar e correram para ajudá-lo contra os inimigos.

Vendo isso, como não suportam a desonra, os franceses acharam que seria uma afronta não se envolver no combate e pularam todos no mar e lutaram contra os mouros.

Mas estes, quando viram os cristãos iniciar seu ataque sem medo de morrer e tão bem-humorados, recusaram-se a enfrentá-los e, abandonando a fortaleza, fugiram em desordem.

Pondo pé em terra, os cristãos mataram quantos puderam alcançar e obtiveram a vitória, prestando grande serviço à causa de Deus. Tão grande vitória começou com o salto ao mar do rei de Inglaterra.

Ouvindo isto, o eremita ficou muito contente e compreendeu que Deus lhe concedia uma grande honra pondo-o como companheiro no Paraíso de um homem que O havia servido dessa maneira e que tinha glorificado a fé católica.

– E vós, Senhor Conde, acrescentou Patronio, se quiserdes servir a Deus e fazer penitência pelos vossos pecados, reparai os danos que podeis ter feito nesta terra.

Fazei penitência pelos vossos pecados sem ouvirdes as elegâncias do mundo, que é tudo vaidade.

E, posto que Deus vos entregou terras onde O poderíeis servir lutando contra os mouros por mar e por terra, fazei quanto possais para garantir o que já tendes.

Ricardo Coração de Leão socorre os cristãos sitiados em Jaffa. Gravura de Gustave Doré.
Ricardo Coração de Leão socorre os cristãos sitiados em Jaffa.
Gravura de Gustave Doré (1832 — 1883).
E deixando em paz vossos senhorios e tendo pedido perdão por vossas culpas, para fazer a devida penitência e para que todos bendigam vossas boas obras, podereis abandonar tudo, ficando sempre ao serviço de Deus e assim terminar vossa vida.

Esta é, na minha opinião, a melhor maneira de salvar vossa alma de acordo com vosso estado e dignidade. Por esta razão vós deveis acreditar que, pelo fato de servir a Deus desta maneira, não ireis morrer antes nem viver mais tempo na terra.

Se morrerdes servindo a Deus, vivendo como eu disse, sereis contado entre os mártires e estareis junto da Bem-aventurada Virgem Maria.

Embora possais não morrer em combate, a boa vontade e as boas obras farão de vós um mártir, e aqueles que quereriam vos criticar não poderão fazê-lo, pois todos verão que não abandonais a cavalaria, mas desejais ser cavaleiro de Deus e deixais de ser cavaleiro do diabo e das vaidades do mundo, que são perecedouras.

Agora, oh conde!, eu vos tenho aconselhado, como me pedistes, para que possais salvar vossa alma permanecendo em vosso estado. E assim vós imitareis o Rei Ricardo da Inglaterra, quando pulou no mar para iniciar uma ação gloriosa.

O Conde realmente gostou do conselho que lhe deu Patronio e pediu a Deus para ajudá-lo a pô-lo em prática, como seu conselheiro desejava.

E vendo o Infante Don Juan que esta era uma história exemplar, mandou incluí-la neste livro e compôs alguns versos que a resumem. E eles dizem assim:

Quem se acha cavaleiro
Esse salto deve imitar,
E não encerrado em mosteiro
por trás de altos muros ficar.


El conde Lucanor
El conde Lucanor é um livro narrativo da literatura de Castela medieval, escrito entre 1330 e 1335 pelo infante Don Juan Manuel, Príncipe de Villena.
O título completo e original em castelhano medieval é Libro de los enxiemplos del Conde Lucanor et de Patronio (Livro dos exemplos do conde Lucanor e de Patronio).
O livro compõe-se de cinco partes, sendo a série de 51 exempla ou contos moralizantes a mais conhecida.



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domingo, 16 de julho de 2023

O enigma do ferreiro e o rosto do rei

O imperador Frederico Barba-roxa (1122 – 1190). Iluminura de 1188, Biblioteca Vaticana.
O imperador Frederico Barba-roxa (1122 – 1190.
Iluminura de 1188, Biblioteca Vaticana.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
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No tempo do imperador Frederico, havia um ferreiro que trabalhava o ano inteiro no seu ofício, sem guardar domingos, nem a Páscoa nem dias santos, por mais solene que fosse a festa.

Trabalhava todos os dias até ganhar quatro soldos, mas depois disso não dava mais nenhuma martelada, mesmo que fosse da maior urgência o trabalho encomendado, e ainda que lhe pagassem muito bem.

Um dia alguém o denunciou ao imperador por profanar os dias santificados, trabalhando como nos demais dias do ano. Frederico o convocou à sua presença, e perguntou se era certo o que lhe diziam. O ferreiro não negou, e então o rei perguntou:

— Qual o motivo que te leva a quebrar o preceito dos dias santificados?

— Senhor, para atender às minhas obrigações, tenho que ganhar quatro soldos todos os dias. Conseguido isso, termina para mim a jornada até o dia seguinte.

— E o que fazes com esses quatro soldos?

— Senhor, eu os divido em quatro partes iguais. Uma eu devolvo, faço doação de outra, jogo fora a terceira, e uma eu invisto na minha subsistência.

— Explica melhor isso.

— A doação, senhor, eu a faço pagando impostos. A devolução é devida ao meu pai, tão velho e pobre que já não pode ganhar o próprio sustento, pelo que ele me emprestou quando eu era ainda criancinha e não podia trabalhar. Desperdiço a outra parte dando-a à minha mulher, para os seus gastos, o que é o mesmo que jogar fora, pois ela não sabe fazer nada além de comer e beber. Invisto na minha subsistência o restante, quer dizer, na manutenção da minha casa.

O imperador pensou então: “Se o mandasse parar de fazer assim, eu o colocaria injustamente em muitos apertos. Mas vou impor a ele uma condição severa, e se não a cumprir, vai me pagar caro”. Disse então ao ferreiro:

— Vai com Deus! Mas a explicação da tua conduta, que me deste agora, não a podes contar a ninguém. Nem uma única palavra, antes de ver meu rosto cem vezes, sob pena de cem libras de multa.

Não era fácil para um simples ferreiro ver o rosto do rei umas poucas vezes, quanto mais cem, o que significaria para ele silêncio definitivo sobre o assunto.

No dia seguinte o imperador resolveu apresentar aos seus sábios um enigma, e pediu-lhes que explicassem o sentido oculto da moeda devolvida, da moeda doada, da moeda jogada fora e da moeda investida. Deu-lhes oito dias de prazo para a resposta.

Imperador. Catedral de Colônia, Alemanha
Imperador. Catedral de Colônia, Alemanha
Depois de muito discutirem e não acharem a solução, os sábios concluíram que o assunto devia guardar relação com a presença do ferreiro ante o imperador, mas nenhum deles sabia o que se passara entre os dois.

Não achando outra saída, resolveram espionar o ferreiro, e compareceram às escondidas na oficina. Pediram-lhe que desse a explicação, mas o ladino se conservou hermético. Ofereceram-lhe então dinheiro em troca da informação. Depois de deliberar consigo mesmo, o ferreiro respondeu:

— Já que estais tão interessados, juntai cem libras de ouro, pois só mediante essa quantia eu poderei dar-lhes a explicação.

Convencidos de que seria tempo perdido insistir, e temendo que se esgotasse o prazo de oito dias, quotizaram-se e puseram em mãos do ferreiro as cem libras.

Com toda calma ele foi pegando uma por uma das moedas, e as olhava com atenção na frente e no verso. Todas as moedas continham em relevo a efígie do imperador, sendo de um lado a figura equestre, e do outro a face. Terminado esse lento ritual, ele explicou aos sábios o caso, exatamente como o explicara ao imperador. Os sábios saíram dali contentes.

Esgotado o prazo de oito dias, apresentaram-se ao imperador e lhe deram a explicação pedida, deixando-o muito surpreso, pois tudo coincidia com as palavras do ferreiro.

Suspeitou logo que ele tivesse dado com a língua nos dentes, e pensou: “Esses sábios não seriam capazes de descobrir sozinhos toda a explicação, e o devem ter ameaçado ou até açoitado para obtê-la. Vou chamá-lo, e agora ele vai ter de me pagar toda a dívida atrasada”. Mandou chamar o ferreiro, e lhe perguntou:

— Parece que, apesar da minha proibição, falaste mais do que era conveniente, revelando o segredo que eu te havia confiado. Agora vais ter de pagar amargamente a leviandade.

— Senhor, podeis dispor não só de mim, como também de todo o mundo para fazer o que vos agrada, por isso a vós me entrego como a um pai e senhor muito amado.

Porém não creio ter infringido vossas ordens, que eram de guardar o segredo até conseguir ver a vossa face cem vezes. Por isso perderam tempo todos os que tentaram obter de mim o segredo antes de haver cumprido aquela condição.

Mas depois que me apresentaram cem libras de ouro, e que na presença dos interessados eu contemplei vossa augusta face em cada uma delas, não tive dúvidas em contar-lhes o que sabia. Não me parece portanto que eu vos tenha ofendido. Além do mais, eu com isso me livrei da presença insistente e incômoda dos tais sábios.

— Vai com Deus, e que Ele te dê sorte, pois foste bastante mais inteligente do que todos os meus sábios juntos!

(Novellino, in R. Menéndez Pidal, Antología de cuentos – Labor, Barcelona, 1953)


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domingo, 9 de julho de 2023

Santa Maria, Senhor

Nossa Senhora com o Menino Jesus, Rottenbuch, Alemanha
Nossa Senhora com o Menino Jesus, Rottenbuch, Alemanha
Luis Dufaur
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Cantiga 350 do rei de Leão e Castela Alfonso X, o Sábio. Cantigas de Santa María
ESTA É EM LOUVOR DE SANTA MARIA

Santa Maria, Senhor,
valei-nos onde mister for.

E valei-nos, Santa Maria,
pois precisamos que nos valhas,
pois tu por nos noite e dia
com o diabo disputas
e ainda penas
para encobrir nossas faltas,
e por nos dar alegria
com Deus sempre trabalhas,
pois tu es advogada
do povo pecador.
Santa Maria, Senhor,
valei-nos onde mister for.

Valei-nos, Virgem gloriosa,
com a vossa muito grande virtude,
pois na tua carne preciosa
Deus se encarnou para nossa salvação
e por isso mesmo, ô piedosa,
vossa mercê nos escude
contra a companhia desastrosa
do demônio, e nos ajude;
pois na vossa maior pena
tu ajudas ao pecador.
Santa Maria, Senhor,
valei-nos onde mister for.

Nossa Senhora, catedral de Ávila, Espanha
Nossa Senhora, catedral de Ávila, Espanha
E valha-nos, nobre Rainha,
com vossas tão grandes piedades,
sede nossa mãezinha
nas grandes enfermidades,
e a nossa carne fraca
impede de fazer maldades;
pois tu nos podes agora
acorrer com tuas bondades,
e por ti Nosso Senhor
perdoa o pecador.
Santa Maria, Senhor,
valei-nos onde mister for.

Valei-nos, grande Senhora,
pois por nós no mundo nada
foste, e da altura
Deus fixou em ti sua pousada
e fez de ti, Virgem pura,
Madre e nossa advogada,
para nos levar a bem-aventurança
Ele te fez coroada,
e te fez flor dos santos
e guardiã do pecador.
Santa Maria, Senhor,
valei-nos onde mister for.

E valei-nos pela vossa bondade
que tão grande sempre tiveste,
porque a tão grande divindade
de Deus em ti se encarnou;
e mantende-nos na verdade,
que tu sempre mantiveste,
e da falsidade protegei-nos,
que vós sempre detesta-te e detestas
e vós saberei proteger o pecador.
Santa Maria, Senhor,
valei-nos onde mister for.

Vídeo: Santa Maria, Senhor





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