domingo, 13 de fevereiro de 2022

A ponte e a haste da Cruz

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Conta-nos uma lenda de antanho que, a um homem que deveria fazer grande jornada, deram a carregar pesada cruz, dizendo-lhe que ela o levaria à salvação.

Tendo feito pequena parte do trajeto, vencido e desanimado pelo cansaço, deliberou ele cortar um pedaço da longa haste de sua carga.

Mais aliviado, pôs-se de novo a caminho, e jornadeou até o ponto em que a estrada subia por uma encosta longa e pedregosa.

Ali sentiu mais o peso da cruz.

Doíam-lhe os ombros, tinha as pernas trôpegas, arfava e suava.

Na irreflexão da impaciência, pôs o seu fardo no chão, e outra vez o mutilou.

Partiu. Alcançou o sopé do outeiro, e se viu às margens de um rio sem ponte.

Só então observou que outros viajantes ali chegados levavam também pesadas cruzes de longas hastes.

Mas estes, mais resistentes e tolerantes, conservaram suas cruzes intactas.

Estenderam as cruzes de margem a margem, e fazendo-as de pontilhões, atingiram o lado oposto, e lá se foram.

O que encurtara a haste de sua cruz viu, desde logo, que ela não lhe poderia prestar o mesmo auxílio.

Tentando meter-se pelo rio a dentro, desapareceu, levado pelos redemoinhos da correnteza.

É límpida a lição da fábula.

Todos os que vivemos a cortar, com golpes arbitrários, em nossos deveres e obrigações para com Deus, podemos levar, por algum tempo, vida mundanamente fácil, mas sempre enganosa.

O dia chegará em que seremos vítimas das mutilações feitas na haste da nossa cruz.



(Malba Tahan, "Lendas do Céu e da terra" - Borgoi, SP, 1939)



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2 comentários:

  1. Maria das Graças Dourado Pimenta21 de abril de 2014 às 10:22

    A fábula é muito aplicável a realidade da vida de todos os que precisam levar a sua cruz inteira, até o fim.

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  2. Essa Fábula é um pouco semelhante a uma história verídica que aconteceu com uma mulher conhecida da minha família. Ela tinha feito uma promessa a São Francisco, logo depois que quebrou um braço, combinando que se ficasse boa e sem nenhum defeito no membro quebrado, iria e viria de sua residencia à cidade de Canindé, no Ceará, a pé. Ela ficou boa como queria e no ato de pagar a penitência já quase completo o trajeto de volta, a menos de um quilômetro de casa, ofereceram-lhe uma carona em uma caminhoneta. Por está muito próximo de cumprir o prometido pro Santo de sua devoção, ela achou que tava tudo bem; só que quando o carro foi parar pra ela descer, a porta se abriu de repente e ela caiu pra fora do carro, quebrando o braço novamente. Portanto, se você pede algo prometendo um sacrifício, é bom cumprir ao pé da letra!

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