São Jorge, catedral de Estocolmo |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No coração da região de Morvan, na Borgonha (França), entre os límpidos rios Cure e Cousin, uma aldeia tem um nome curioso: Quarré-les-Tombes, algo como o Cercado das Tumbas.
O nome vem da presença sempre inexplicável de grande número de sarcófagos vazios – lá chamados de “pierres carrées”.
A concentração nesse local de milhares de túmulos sem os respectivos restos sempre excitou a imaginação popular.
A história começa no século nono da era cristã.
Os normandos – ou vikings – que naquela época eram pagãos, invadiam a França e remontavam os rios a bordo de seus grandes barcos, os drakkar.
Eles não somente matavam, pilhavam e queimavam tudo na sua passagem, mas também arrasavam as igrejas e dispersavam as santas relíquias.
Lutar contra os normandos equivalia não somente libertar o território, mas também partir em cruzada e, por essa via, conquistar o Paraíso.
Alguns dos túmulos vazios junto à igreja de Quarré-les-Tombes |
Certa feita, ele cavalgou durante vários dias à testa de seus cavaleiros sem repousar nem se alimentar, porque queria ir mais rápido que os normandos e pegá-los no centro do Morvan.
Como queria descansar um pouco num local fresco e calmo algumas horas antes da batalha que planejava provocar, Renaud amarrou seu cavalo num velho carvalho à sombra de uma floresta e deitou-se.
A grama parecia confortável, um rouxinol cantava maravilhosamente, o ar era agradável.
Sarcófagos dentro da igreja de Quarré-les-Tombes |
Os dois exércitos se entrechocaram enquanto o herói dormia.
Excitado pelo ruído das armas e dos gritos de combate, seu cavalo encheu-se de impaciência e, para acordar o dono, começou a relinchar e cavar o chão com tal violência que se enterrou até o ventre.
Por fim, tirado do sono pelo pobre animal, Renaud acorreu ao local do combate para sustentar seu exército que começava a arredar.
Jogou-se então de corpo inteiro na batalha, e os guerreiros, vendo-o de tal maneira engajado, recuperaram a coragem.
São Jorge, igreja de Hanworth, Inglaterra |
Mas, nas hostes cristãs as perdas foram severas. E os sobreviventes ficaram donos do terreno, mas esgotados.
São Jorge, padroeiro dos cavaleiros, havia acompanhado a cena do alto do Céu e quis levar consigo ao Paraíso aqueles guerreiros mortos com tanta bravura.
Porém, para ir ao Paraíso era preciso que fossem enterrados em cemitério cristão.
Então o cavaleiro do Céu, armado com sua longa lança e montando seu belo cavalo branco, enviou uma chuva de sarcófagos destinados aos soldados de Renaud.
E fiz crescer um monte de espinheiros sobre o corpo dos incrédulos.
O cemitério foi consagrado pelos clérigos.
E depois que todos partiram, São Jorge levou os cruzados mortos para o Céu.
Quando em séculos posteriores os pesquisadores foram a abrir os féretros de Quarré-les-Tombes, descobriram que eles estavam vazios.
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