Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Num antigo e austero mosteiro habitava uma monja muito jovem, chamada Beatriz, de grande piedade em sua vida religiosa e profundamente devota de Santa Maria, a quem consagrara a metade de sua vida.
Continuamente a viam de joelhos diante do seu altar, em fervorosa veneração, oferecendo sua esplêndida juventude e angélica pureza à sua Santíssima Mãe.
A abadessa e todas as irmãs do convento lhe professavam grande carinho, por sua bondade e doçura, e a nomearam para o cargo de sacristã da igreja, que ela desempenhava com grande zelo.
Porém, sendo Beatriz extraordinariamente bela, despertou a paixão de um clérigo que freqüentava o mosteiro. Tentou convencê-la a fugir do convento com ele. Mas Beatriz, que a princípio resistia com firmeza, sentia desfalecer suas forças ante os embates daquela forte tentação.
Procurava rezar, porém sua devoção se havia convertido em aridez de espírito, e sua imaginação voava muito longe, sentindo fastio na oração. Numa ocasião em que a igreja estava deserta, o enamorado conseguiu enfim que a monja consentisse em fugir com ele.
Antes de partir, ela se prostrou de joelhos ante a Virgem, dizendo:
— Soberana Senhora, eu te servi honestamente durante a vida toda, até hoje, e não posso conter esta força que me arrasta longe de ti. Entrego-te e te encomendo as chaves desta igreja.
E depositando as chaves sobre o altar, fugiu com o clérigo.
Transcorreu pouco tempo, e o clérigo, uma vez satisfeita sua paixão, abandonou Beatriz, que caiu com a alma desgarrada e grande confusão de espírito.
Sem atrever-se a voltar ao convento, transformou-se numa mulher pública, levando vida ímpia e vergonhosa durante quinze anos, torturada pelos remorsos de sua consciência e conservando uma vaga esperança de perdão.
Passava um dia diante do mosteiro, e sentiu o desejo de parar, para saber o que pensavam da irmã sacristã.
Aproximou-se da porteira do convento, e perguntou:
— Diga-me, irmã, como está Beatriz, a sacristã?
A porteira respondeu:
— Vai muito bem, tão santa e devota como sempre, desempenhando maravilhosamente seu ofício de sacristia. Todas as religiosas a admiram. Já está no convento há vinte e seis anos, demonstrando grande piedade.
Beatriz ficou pensando nas misteriosas palavras que acabava de ouvir, mas sem poder compreendê-las. Então lhe apareceu a gloriosa Virgem, dizendo:
— Beatriz, minha filha, durante quinze anos, em figura tua, Eu desempenho o ofício de sacristã.
Volta ao mosteiro, e continua servindo como se nunca tivesses saído, porque nada sabem de teu pecado. Crêem que continuas em teu posto. Faze penitência para alcançar o perdão de teus muitos pecados.
Unicamente o confessor, a quem revelou sua vida e seus pecados, era conhecedor daquele milagre.
Impôs-lhe severas penitências, que Beatriz cumpriu com rigor, edificando suas companheiras com o exemplo de suas virtudes heroicas e sua santa vida cheia de sacrifícios, para expiar suas culpas.
Chegada sua última hora, Beatriz chamou toda a comunidade, que a rodeou em seu leito de morte, e em alta voz confessou seu pecado, descobrindo o prodígio de misericórdia operado por Nossa Senhora, que durante quinze anos desempenhou por ela o cargo de sacristã. Foi tudo isso atestado pelo confessor.
E morreu santamente naquele instante.
Todas as monjas ficaram admiradas daquele portento, e deram graças à sua Mãe Celestial, que havia feito aquele favor para a religiosa.
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muito lindo !!!!
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