domingo, 12 de março de 2023

São Miguel de Aralar

São Miguel de Aralar
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Em tempos antigos, quando os godos reinavam na Espanha, Teodosio de Goñi foi um dos maiores heróis bascos.

Sua coragem era lendária e seu braço estava sempre pronto para lutar contra os inimigos.

Uma vez teve que se ausentar de sua terra.

Despediu-se de sua esposa Constança, bela dama de extrema fidelidade ao marido.

Teodósio esteve ausente por algum tempo.

Por fim, ele voltou cheio de felicidade, esperando abraçar sua esposa em breve.

Na estrada perto de sua casa encontrou um eremita, que perguntou seu nome:

“Eu sou Teodosio de Goñi. Estive na guerra defendendo nossas terras, e agora volto para abraçar minha esposa”.

Mas o ermitão, que na realidade fingia se-lo, respondeu-lhe com voz triste:

“Oh, miserável Teodosio de Goñi!

“Durante tua ausência tua esposa manchou a tua honra com atos vis que são do conhecimento de todo o povo”.


Teodósio congelou e mal conseguiu perguntar alguma coisa ao eremita, que desapareceu imediatamente.

Então, tremendo de raiva, galopou para casa, despercebido pelos criados, tarde da noite entrou no seu palácio por uma porta secreta.

Indo no escuro para o seu quarto, verificou, horrorizado, que na sua cama, ao lado de uma trouxa de uma mulher, que pensou ser Constança, dormia um homem.

Então, louco de raiva, ele sacou sua adaga e apunhalou os traidores.

Teodosio de Goñi mata seus pais. Gravado na obra do Pe. Tomas de Burgui
Teodosio de Goñi mata seus pais. Gravado na obra do Pe. Tomas de Burgui
Saiu angustiado e, sem saber o que fazer, dirigiu-se à igreja. Já era madrugada e uma luz fraca iluminava as ruas.

Ele viu uma mulher saindo da igreja e, atordoado de medo, viu que era Constanza.

Ela correu para o marido para abraçá-lo, transportada de alegria. Mas ele, já muito confuso, perguntou-lhe quem eram os que dormiam na cama nupcial.

“Eles são seus pais, que vieram me visitar e a quem dei nosso quarto”.


Essas palavras foram como um raio caindo sobre o infeliz Teodósio.

Entendeu que, enganado pelo eremita, que foi um demônio ou forma infernal, e levado por sua imprudência e violência, cometeu um horrendo parricídio, e fugiu, para espanto de sua esposa.

Espanto que se transformou em horror quando ela voltou ao palácio e viu os pais de seu marido mortos e ensanguentados.

Teodosio de Goñi penitente
Teodosio de Goñi penitente
Ele, movido por seu terrível remorso, foi para Iruña, onde São Marciano era bispo, diante de quem se prostrou em confissão de sua culpa.

O pecado cometido por Teodósio parecia enorme ao homem santo.

E, não podendo absolvê-lo, ordenou-lhe que fosse em peregrinação a Roma, para pedir ao Santo Padre que lhe impusesse a dura penitência que a sua horrenda culpa merecia.

Teodósio empreendeu o caminho para a cidade santa, abrindo caminho entre duras dores de coração.

Por fim, ele entrou em Roma e pediu para ser ouvido em confissão pelo Padre dos Cristãos.

Tratava-se de João VII, que o censurava pela violência do seu caráter, que o levara a cometer tão horrenda ofensa.

“A tua penitência deve ser muito dura, e só a vontade de Deus há de determinar, por intervenção milagrosa, quando terás de ser perdoado.

“Você pegará uma cruz de madeira e prenderá uma pesada corrente de ferro.

“Assim farás uma peregrinação pelos lugares mais rudes e solitários, e somente quando a corrente cair quebrada por si mesma no chão, saberás que Deus te perdoou”.


Correntes penitenciais de Teodosio de Goñi, no santuário de São Miguel de Aralar
Correntes penitenciais de Teodosio de Goñi,
no santuário de São Miguel de Aralar
Teodósio começou sua marcha com a cruz de madeira e uma corrente de grossos elos de ferro, que ele mesmo mandara cingir e rebitar com um martelo.

Todos os dias, sobrecarregado com o peso da cruz e da corrente, ele percorria uma distância em direção ao seu país, surpreendendo os transeuntes, aos quais implorava que orassem para que Deus perdoasse um pecador tão grande como aquele que viam.

Finalmente chegou a Navarra e escolheu como penitência as espessas montanhas da Sierra de Andía.

Mas estando muito perto de Goñi e querendo se afastar, ele se dirigiu para o Monte Aralar.

Subiu as encostas da imensa massa e chegou a algumas falésias.

Havia uma caverna profunda, onde, segundo a crença generalizada, vivia um monstro terrível.

Teodosio subia lentamente, arrastando a corrente, da qual, para sua grande alegria, havia saído um elo, que se prendeu numa árvore, quando saiu das montanhas perto de Goñi.

Santuário de São Miguel de Aralar
Santuário de São Miguel de Aralar
O infeliz penitente estava pensando nisso, quando de repente ouviu um tremendo rugido e encontrou um dragão horrível no meio do caminho que ameaçava despedaçá-lo entre suas garras afiadas.

— São Miguel valei-me! exclamou Teodósio, apavorado.

E imediatamente os céus se abriram, no meio de uma grande luz, e apareceu São Miguel, que destruiu o dragão, exclamando em língua navarra: Nor laungokoia bezala? (“Quem como Deus?”).

Nesse instante a pesada corrente que prendia a cintura de Teodósio caiu quebrada no chão. Deus havia perdoado o penitente.

Cheio de alegria, Teodosio voltou para Goñi, onde encontrou sua esposa, que ficou radiante ao saber do ocorrido.

E, cumprindo a vontade do Papa, que mandara Teodósio erguer ali uma igreja onde caíram as suas correntes, construíram uma capela em honra de São Miguel.

E ficaram morando ali como eremitas e sendo sepultados, à sua morte, junto à igreja.

Diz-se que seu túmulo está sob uma coluna, à direita do pórtico.


(Fonte: Leyendas de Navarra) 


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