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Quadro alegórico do feito da marquesa de Falces, castelo de Marcilla: "Embora morta, ela vive" |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Após a captura de Navarra por Fernando el Católico, começou a destruição sistemática de seus castelos.
A resistência oferecida pelos navarros os fez desistir de continuar a demolição, até que Don Hernando del Villar, um bravo guerreiro, mas feroz e rude, se ofereceu para realizá-la.
Nada resistia à loucura devastadora daquele que se tornara o terror dos navarros.
Apenas uma mulher, Dona Ana de Velasco, castelhana de Marcilla e marquesa de Falces, conseguiu deter a fúria de Don Hernando.
Sua figura lendária foi preservada desde então na memória do povo de Navarra.
Aqui está como a tradição conta o que aconteceu:
Quando a notícia da aproximação do feroz D. Hernando chegou ao castelo de Marcilla, a marquesa mandou fazer o abastecimento de comida e organizou a defesa.
Tudo foi feito às escondidas, para que quando don Hernando chegasse diante do castelo, nada denunciasse os preparativos que haviam sido feitos.
O rude guerreiro ficou surpreso ao ver que a mesma marquesa, vestida com seus mais ricos ornamentos, majestosa e sorridente, saiu para recebê-lo na entrada da ponte, com grande acompanhamento.
Deixou-se conduzir ao castelo, meio deslumbrado e meio surpreso com tão brilhante e amistosa recepção.
Lá o esperava o maior banquete que já conhecera em sua vida.
A marquesa levou-o pelo braço até a mesa, e o banquete começou, enquanto os companheiros de Don Hernando eram brindados com uma excelente refeição em um apartamento separado.
Quando, no final, foram servidos vinhos requintados, a marquesa perguntou ao hóspede qual era o motivo de sua visita e como eles poderiam agradá-lo.
Don Hernando informou-o das ordens estritas que trouxera do governador de Castela. Então o gesto gracioso e amável da marquesa tornou-se orgulhoso e feroz, e ela exclamou energicamente:
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O castelo de Marcilla ficou íntegro até hoje |
Don Hernando respondeu bruscamente que, pela magnífica recepção que recebera, estava lhe concedendo permissão para recolher todos os objetos preciosos antes de deixar o castelo com seus servos.
“A única coisa que lhe concedo é a vida”, respondeu a marquesa com altivez.
Imediatamente depois, gritando “Às armas!”, o chefe da guarnição entrou na sala à frente de vigorosos guerreiros.
Don Hernando não teve escolha a não ser obedecer às ordens de Dona Ana e saiu do castelo mordendo os lábios e sem dizer uma palavra.
Enquanto isso, seus soldados foram desarmados pelos da marquesa.
Atravessando a ponte, ele viu as ameias encimadas por arcabuzeiros, prontos para atirar. Tudo estava pronto para a defesa.
Villar e seus homens deixaram Marcilla cheios de rancor e sem vontade de empreender novas demolições.
O castelo ainda hoje está intacto, graças à astúcia de Dona Ana, que conseguiu salvá-lo da destruição.