domingo, 10 de setembro de 2023

“Aquela que por sua grande formosura” (Cantiga 384)

Nossa Senhora da Consolação, Espanha
Nossa Senhora da Consolação, Espanha
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Aquela que por sua grande formosura é chamada Flor das Flores mostra-se muito mais agradada quando, por cima de qualquer outro elogio, louvam o seu nome.

Sobre isso falarei de um milagre, segundo me foi contado, acontecido com um bom monge muito ordenado, que rezava com muita devoção as Horas da Virgem, no que encontrava a sua maior alegria, mais do que com qualquer outra coisa.


Ele era um muito bom clérigo que gostava muito de ler as vidas dos Santos Padres e que, além do mais, escrevia muito bem.

Porém, como o que mais lhe aprazia era escrever o nome de Santa Maria, ele fez um escrito muito belo, que pintou com três cores.

A primeiro era ouro, cor rica e formosa à semelhança da Virgem nobre e muito preciosa. A outra era azul, cor muito fascinante, semelhante ao céu em seu máximo esplendor.

A terceira é chamada de rosa, porque na verdade é cor púrpura. Cada uma delas descrevia a Virgem pelo que Ela é: muito rica, muito santa, e que ninguém houve igual em formosura, porque é a melhor das melhores.

Desde então, o monge carregava consigo o nome sagrado da Virgem Santa Maria, a quem estava firmemente consagrado, osculando-o muitas vezes para derrotar o diabo inimigo, que sempre se esforça para nos levar ao erro.

Certa feita, aconteceu de ele se encontrar muito doente, de uma doença grave que o tinha preso em suas garras. Embora muito doente, ele estava sempre consciente de ser um dos fiéis mais fervorosos da Santa Virgem.

O abade e todos os monges foram vê-lo, e quando o viram em condição tão ruim, designaram um frade para ficar com ele e fazer-lhe companhia.

Depois de terem ficado algum tempo na visita, foram embora. No entanto, a Rainha das rainhas apareceu em sonhos ao frade, e o sonho foi assistido pelo irmão que o acompanhava.

Chegou até perto da cama e lhe disse: “Não tenhas medo, pois eu te farei subir comigo ao Paraíso, onde você vai ver aqueles que ali tenham chegado antes.

“Posto que uma vez você pintou o meu nome em três cores, vou te levar para o céu, onde você vai ver as delícias e será inscrito no Livro da Vida entre aqueles que não morrem nem têm tristeza ou dor”.

Então, a Rainha Santa levou consigo a alma do monge. O frade acordou incontinenti, e faleceu rapidamente na cama. Quando o acompanhante o viu morto, tocou o sino, como está prescrito pelos médicos da Santa Igreja.

O abade acorreu rapidamente com os monges da comunidade, que eram oitenta ou cem, e o monge acompanhante lhes disse:

“Bom, senhores monges, vou com cuidado contar-lhes tudo o que vi, se é que vão me ouvir”.

Então ele narrou o que tinha visto, e o abade lhe deu ordem de colocá-lo por escrito, a fim de destruir as obras do inimigo maldito que tenta nos levar para o inferno, onde estaremos para sempre com medo.

Depois de terem ouvido falar do milagre, os monges alegremente elogiaram a Santa Virgem Maria, Senhora da Misericórdia, e se com descuido tinham andado mal contra Ela em qualquer coisa, prometeram se manter sem pecar.


(Fonte: “Cantigas de Santa Maria”, Cantiga 384, do rei Afonso X o Sábio)

“Aquela que por sua grande formosura” (Cantiga 384) 
 

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