São Luís rei da França, miniatura contemporânea na Biblia de Toledo, dita Bíblia de São Luis, c. 1230, The Morgan Library & Museum, New York |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Indo São Luís, rei de França, em peregrinação visitar os santuários pelo mundo, e ouvindo a fama grandíssima da santidade de Frei Egídio, o qual fora dos primeiros companheiros de São Francisco, pôs no coração e determinou por tudo visitá-lo pessoalmente.
Pela qual coisa veio a Perusa, onde habitava então o dito Frei Egídio.
E chegando à porta do convento dos frades, como um pobre peregrino desconhecido com poucos companheiros, chamou com grande insistência por Frei Egídio, nada dizendo ao porteiro sobre quem fosse aquele que o chamava.
Foi, pois, o porteiro a Frei Egídio e disse-lhe que à porta havia um peregrino que o procurava: e por Deus lhe foi revelado em espírito que aquele era o rei de França.
pelo que subitamente ele com grande fervor sai da cela e corre à porta e sem mais pergunta, ou sem que jamais tivessem estado juntos, com grandíssima devoção ajoelhando-se abraçaram-se e beijaram-se com tanta familiaridade como se há longo tempo tivessem tido grande amizade.
No entanto, nenhum falava com o outro, mas estavam assim abraçados em silêncio com aqueles sinais de amor caritativo.
E ficando como ficaram por grande espaço de tempo por esta forma, sem dizer palavra, partiram-se um do outro.
E São Luís continuou sua viagem e Frei Egídio voltou à sua cela.
São Luis Rei da França abraçando a Cruz |
O que dizendo este frade aos outros irmãos, houveram eles grande melancolia porque Frei Egídio não lhe tinha dito palavra.
Lamentando-se lhe disseram:
“Ó Frei Egídio, por que foste tão vilão; que a um tão grande rei, o qual veio de França para ver-te e para ouvir alguma boa palavra, não disseste nada?”
Respondeu Frei Egídio:
“Caríssimos irmãos, não vos maravilheis por isto; porque nem ele a mim nem eu a ele podia dirigir palavra, pois logo que nos abraçamos a luz da divina sapiência revelou e manifestou a mim o coração dele e a ele o meu.
“Assim por operação divina olhando nos corações, o que eu queria dizer-lhe e ele a mim muito melhor ficamos conhecendo, do que se o tivéssemos falado com a boca, e com maior consolação.
“Se nos quiséssemos explicar com a voz o que sentíamos no coração, pelo defeito da língua, a qual não pode claramente exprimir os mistérios secretos de Deus, ternos- ia sido antes desconsolo do que consolação.
“E, portanto, tende como certo que de mim se partiu o rei admiravelmente consolado”.
Em louvor de Cristo. Amém.
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