domingo, 9 de maio de 2021

São Luís, rei da França, peregrino, visita Frei Egídio

São Luís rei da França, miniatura contemporânea na Biblia de Toledo, dita Bíblia de São Luis, c. 1230, The Morgan Library & Museum, New York
São Luís rei da França, miniatura contemporânea na Biblia de Toledo,
dita Bíblia de São Luis, c. 1230, The Morgan Library & Museum, New York
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Indo São Luís, rei de França, em peregrinação visitar os santuários pelo mundo, e ouvindo a fama grandíssima da santidade de Frei Egídio, o qual fora dos primeiros companheiros de São Francisco, pôs no coração e determinou por tudo visitá-lo pessoalmente.

Pela qual coisa veio a Perusa, onde habitava então o dito Frei Egídio.

E chegando à porta do convento dos frades, como um pobre peregrino desconhecido com poucos companheiros, chamou com grande insistência por Frei Egídio, nada dizendo ao porteiro sobre quem fosse aquele que o chamava.

Foi, pois, o porteiro a Frei Egídio e disse-lhe que à porta havia um peregrino que o procurava: e por Deus lhe foi revelado em espírito que aquele era o rei de França.

pelo que subitamente ele com grande fervor sai da cela e corre à porta e sem mais pergunta, ou sem que jamais tivessem estado juntos, com grandíssima devoção ajoelhando-se abraçaram-se e beijaram-se com tanta familiaridade como se há longo tempo tivessem tido grande amizade.

No entanto, nenhum falava com o outro, mas estavam assim abraçados em silêncio com aqueles sinais de amor caritativo.

E ficando como ficaram por grande espaço de tempo por esta forma, sem dizer palavra, partiram-se um do outro.
E São Luís continuou sua viagem e Frei Egídio voltou à sua cela.

São Luis Rei da França abraçando a Cruz
São Luis Rei da França abraçando a Cruz
Partindo o rei, um frade perguntou a algum dos seus companheiros quem era aquele que se tinha abraçado tanto com Frei Egídio; e ele respondeu que era Luís, rei de França, o qual tinha vindo para ver Frei Egídio.

O que dizendo este frade aos outros irmãos, houveram eles grande melancolia porque Frei Egídio não lhe tinha dito palavra.

Lamentando-se lhe disseram:

“Ó Frei Egídio, por que foste tão vilão; que a um tão grande rei, o qual veio de França para ver-te e para ouvir alguma boa palavra, não disseste nada?”


Respondeu Frei Egídio:

“Caríssimos irmãos, não vos maravilheis por isto; porque nem ele a mim nem eu a ele podia dirigir palavra, pois logo que nos abraçamos a luz da divina sapiência revelou e manifestou a mim o coração dele e a ele o meu.

“Assim por operação divina olhando nos corações, o que eu queria dizer-lhe e ele a mim muito melhor ficamos conhecendo, do que se o tivéssemos falado com a boca, e com maior consolação.

“Se nos quiséssemos explicar com a voz o que sentíamos no coração, pelo defeito da língua, a qual não pode claramente exprimir os mistérios secretos de Deus, ternos- ia sido antes desconsolo do que consolação.

“E, portanto, tende como certo que de mim se partiu o rei admiravelmente consolado”.


Em louvor de Cristo. Amém. 



(Fonte: “Fioretti de São Francisco”, cap. 34)



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