Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Era uma vez um homem como todos nós, nem melhor nem pior, um pobre pecador.
O que havia feito? Não sei. Uma falta talvez mais grave que as outras; um pecado maior que os outros, sem dúvida, quando Deus o abandonou à própria sorte.
Deus, evidentemente, não faltou; foi ele que não correspondeu.
E estava sendo conduzido à forca da cidade de Toulouse. Acompanhavam-no os juízes e o carrasco, em meio a uma multidão atraída por curiosidade, para ver o que aconteceria.
Ora, exatamente nesse dia, passava por Toulouse o rei René com sua esposa, a formosa rainha Aude, que ele acabara de desposar na pátria vizinha.
Passando em frente à forca, a rainha viu o condenado já empoleirado no banco, com a cabeça enlaçada pela corda. Não pôde conter um grito, e escondeu o rosto entre as mãos.
O rei deteve a todos, e fez sinal ao carrasco para que parasse. E voltando-se para os cônsules, disse:
— Senhores magistrados, a rainha vos pede, como sinal de boas vindas, que seja de vosso agrado conceder a esse homem o perdão.
Mas os cônsules responderam:
— Senhor, este homem cometeu o grande crime para o qual não há perdão. Ainda que nosso desejo seja agradar à senhora rainha, a lei exige que ele seja enforcado.
— Há portanto, no mundo, uma falta que não possa ser perdoada? Perguntou timidamente a rainha.
— Não, certamente — respondeu um conselheiro que acompanhava o rei. — Segundo o costume do país, qualquer condenado poder ser resgatado pela soma de mil ducados.
— É verdade — responderam os magistrados. — Mas onde é que esse pobre coitado encontrará tal quantia?
O rei abriu a bolsa, e saíram de lá 800 ducados. Quanto à rainha, vasculhou a sua e só encontrou a soma de 50 ducados.
— Senhores — disse ela — não bastam para esse pobre homem 850 ducados?
— A lei exige mil ducados — repetiram os magistrados, inflexíveis.
Então, todos os senhores que compunham o séquito do rei e da rainha reuniram o que traziam consigo, para dar. Os cônsules anunciaram:
— 997 ducados. Ainda faltam 3 ducados.
— Por causa de 3 ducados esse homem será então enforcado!?
— Exclamou a rainha, indignada.
— Não somos nós que exigimos — responderam os magistrados — mas ninguém pode mudar a lei.
E fizeram sinal ao carrasco.
— Parem! — gritou a rainha. — Revistai antes esse miserável. Talvez tenha consigo os 3 ducados.
O carrasco obedeceu e revistou o condenado. No bolso do pobre coitado encontraram-se 3 ducados de ouro.
Cristãos! O homem que vistes nesta história, em grande perigo de ser enforcado, sois vós, sou eu, é a humanidade pecadora.
No dia do Juízo, nada nos poderá salvar. Nem a misericórdia de Deus, nem a intercessão da Virgem, nem os méritos dos santos, se não levarmos conosco três ducados de nossas boas ações.
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Amigo
ResponderExcluirDeus o abençoe!