domingo, 1 de março de 2020

Os três ducados


Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Era uma vez um homem como todos nós, nem melhor nem pior, um pobre pecador.

O que havia feito? Não sei. Uma falta talvez mais grave que as outras; um pecado maior que os outros, sem dúvida, quando Deus o abandonou à própria sorte.

Deus, evidentemente, não faltou; foi ele que não correspondeu.

E estava sendo conduzido à forca da cidade de Toulouse. Acompanhavam-no os juízes e o carrasco, em meio a uma multidão atraída por curiosidade, para ver o que aconteceria.

Ora, exatamente nesse dia, passava por Toulouse o rei René com sua esposa, a formosa rainha Aude, que ele acabara de desposar na pátria vizinha.

Passando em frente à forca, a rainha viu o condenado já empoleirado no banco, com a cabeça enlaçada pela corda. Não pôde conter um grito, e escondeu o rosto entre as mãos.

O rei deteve a todos, e fez sinal ao carrasco para que parasse. E voltando-se para os cônsules, disse:

— Senhores magistrados, a rainha vos pede, como sinal de boas vindas, que seja de vosso agrado conceder a esse homem o perdão.



Mas os cônsules responderam:
— Senhor, este homem cometeu o grande crime para o qual não há perdão. Ainda que nosso desejo seja agradar à senhora rainha, a lei exige que ele seja enforcado.
— Há portanto, no mundo, uma falta que não possa ser perdoada? Perguntou timidamente a rainha.
— Não, certamente — respondeu um conselheiro que acompanhava o rei. — Segundo o costume do país, qualquer condenado poder ser resgatado pela soma de mil ducados.
— É verdade — responderam os magistrados. — Mas onde é que esse pobre coitado encontrará tal quantia?

O rei abriu a bolsa, e saíram de lá 800 ducados. Quanto à rainha, vasculhou a sua e só encontrou a soma de 50 ducados.
— Senhores — disse ela — não bastam para esse pobre homem 850 ducados?
— A lei exige mil ducados — repetiram os magistrados, inflexíveis.

Então, todos os senhores que compunham o séquito do rei e da rainha reuniram o que traziam consigo, para dar. Os cônsules anunciaram:
— 997 ducados. Ainda faltam 3 ducados.
— Por causa de 3 ducados esse homem será então enforcado!?
— Exclamou a rainha, indignada.
— Não somos nós que exigimos — responderam os magistrados — mas ninguém pode mudar a lei.

E fizeram sinal ao carrasco.
— Parem! — gritou a rainha. — Revistai antes esse miserável. Talvez tenha consigo os 3 ducados.

O carrasco obedeceu e revistou o condenado. No bolso do pobre coitado encontraram-se 3 ducados de ouro.

Cristãos! O homem que vistes nesta história, em grande perigo de ser enforcado, sois vós, sou eu, é a humanidade pecadora.

No dia do Juízo, nada nos poderá salvar. Nem a misericórdia de Deus, nem a intercessão da Virgem, nem os méritos dos santos, se não levarmos conosco três ducados de nossas boas ações.



CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS HEROIS ORAÇÕES CIDADE SIMBOLOS
AS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

Um comentário: