Diabo mascando precitos. Coppo di Marcovaldo, batistero da catedral de Florença. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O altaneiro castelo de Fleckenstein fica na Alsácia, França. Hoje a fortaleza medieval está em ruínas.
Mas ela tem um poço de mais de 70 metros de profundidade inteiramente entalhado na rocha. Essa façanha não parece humana e fez nascer a lenda do Poço do Diabo de Fleckenstein:
“O ponto débil de todo castelo é a água. Se ficar sem ela o inimigo podia exigir a rendição.
“Por isso o senhor feudal de Fleckenstein fiz vir os melhores entendidos em poços da região. E eles se puseram a trabalhar encarniçadamente. Eles queriam topar o desafio!
“Dia após dia, semana após semana, o poço se aprofundava, mas nenhuma gota d’água aparecia para refrescá-los.
“Após um ano de um trabalho de Hércules, eles tinham atingido uma profundidade “próxima do centro da terra”, como eles diziam.
“Ali, os raios do sol não podiam mais iluminá-los e eles trabalhavam numa obscuridade desconhecida.
“E nunca encontravam a água!
“Foi então que apareceu um estranho poceiro. Ninguém conhecia-o.
O castelo de Fleckenstein na Idade Média |
‒ “Negócio fechado!”, exclamou o senhor feudal dando tapas nas costas do desconhecido num gesto que lembrou um pacto!
‒ “Tu terás o que queiras em troca da água”, acrescentou o dono do castelo.
“O curioso personagem pôs-se então a trabalhar diante dos poceiros extenuados e incrédulos.
“Ao cabo de algumas horas, ele declarou com certeza diante de uma multidão de olhares espantados que ele, por fim, tinha encontrado água “abundante e fresca”
“Ele, então, convidou o nobre senhor a descer com ele até o fundo do obscuro furo.
“Os dois homens montaram numa cestinha amarrada com uma corda e desceram lentamente.
“A cestinha descia e descia. Isso começou a durar demais e só havia trevas em volta.
“Quando pareciam ter chegado até o fundo do poço, o senhor de Fleckenstein começou a achar que estava vendo chamas.
“No meio daqueles luores enigmáticos ele percebeu que seu companheiro começava a se transformar.
Ruínas do castelo de Fleckenstein onde foi aberto o Poço do Diabo |
“Ele logo compreendeu: o estranho poceiro não era outro senão o diabo que o levava para os infernos !!!!
“O nobre cavaleiro, então, rezou a Nossa Senhora, clamou a Ela que lhe obtivesse a graça de Deus.
“E, enquanto rezava, o diabo pulou da cesta e lhe fez sinal de descer e entrar nas labaredas do seu sinistro, infeliz e eterno reino.
“Mas, o barão apavorado soltou poderosos brados de recusa. Os seus ajudantes, lá acima ouviram os gritos e começaram a puxar a corda.
“Ah! O diabo não ia deixar escapar fácil sua presa! Era dele! Ao menos assim pensava o bandido.
“Dependurou-se da cestinha e começou a balançá-la com toda sua força para que o passageiro caísse nas brasas ardentes de seu malcheiroso reino.
“Lá foram os dois brigando. O nobre invocando a Nossa Senhora se segurava com força da cestinha que para ele virou uma imagem da Igreja, a Arca de Salvação.
“O diabo blasfemava como um herege, chacoalhava a cesta, puxava-a para baixo e para todos os lados, e amaldiçoava a Mãe de Deus que era mais forte do que ele.
Entrada do Poço esquisito |
‒ “Maldito sol! blasfemou o anjo das trevas. “Faz-me lembrar Deus! E São Miguel o dia que me aprisionou no fundo da terra entre enxofre e chamas!”
“A luta foi dura.
“Alguns que ali estiveram garantem que saíam faíscas e chamas do poço...
‒ “Arrgh! O sol, a luz, tudo isso fala de Deus! Não aguento mais, bradou desesperado o pai da revolta, largou a cestinha e jogou-se no precipício.
“O dono do castelo foi salvo. Assim que ele pôs o pé em terra mandou derramar litros de água benta dentro do poço.
“Ainda hoje e desde aquele dia desce uma água clara e fresca para os habitantes da cidade vizinha. E ela vem do poço do castelo!”
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