Igreja de Nossa Senhora, Cracóvia, Polônia |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Conta-se até no longínquo Cazaquistão uma história ligada à mais alta torre da igreja de Nossa Senhora em Cracóvia.
Com 81 metros de altura, ela é conhecida como a Torre da Guarda. Ainda hoje é o ponto mais alto da cidade.
A vida nunca foi fácil em nenhuma parte, mas era especialmente difícil nos inícios da Polônia.
As cidades da Europa Central eram atacadas por hordas de bárbaros pagãos vindos da Mongólia, acumpliciados por vezes com aliados locais.
Em face do perigo, os conselheiros municipais de Cracóvia decidiram que um guarda ficaria sempre a postos no alto da torre de Nossa Senhora.
Do alto, ele alertaria os habitantes tão logo visse os mongóis se aproximarem.
Durante muitos anos, os guardas cumpriram sua missão a contento, alertando os habitantes da cidade diante das ameaças.
Por isso, fazer a guarda no topo da torre era tido como um privilégio reservado aos homens mais honrados e respeitáveis da cidade.
Cracóvia não somente era bela, mas também rica e as hordas de Tártaros a cobiçavam perpetuamente.
De início esparsos, bandos de Tártaros que pilhavam aldeais e cidadezinhas para roubar e sequestrar os habitantes começaram a se reunir.
Eles sonhavam estender seu império, conquistar a Polônia e a Hungria e seguir rumo ao Ocidente.
Em 1241, o príncipe polonês Henrique o Piedoso tinha detido a sua expansão e lhes infringiu uma pesada derrota em Legnica.
Porém, o príncipe pagou caro pela façanha: ele morreu no campo de batalha juntamente com a maioria de seus guerreiros e dos cavaleiros templários.
Pouco antes dessa formidável batalha, a horda tártara tentou conquistar Cracóvia.
No amanhecer de um dia do ano 1240, enquanto a cidade dormia, apareceu no horizonte a silhueta sinistra de um exército pagão que avançava envolto nas trevas matutinas.
O sentinela da Torre da Guarda foi o único que os viu chegar. Imediatamente começou a tocar a trombeta para dar o alarme e acordar o exército e os habitantes.
Ele tocou sem interrupção em direção dos quatro cantos da cidade.
Os tártaros apressaram o assalto. Porém, o guarda havia dado tempo à cidade para preparar a defesa.
Então um tártaro, povo muito hábil no uso do arco e flecha, jogou um dardo contra o guarda que lhe atravessou a garganta e interrompeu o toque de alerta.
Contudo, era muito tarde para pilhar Cracóvia, pois os soldados já estavam no alto das muralhas jogando flechas e pedras contra os assaltantes.
Altar mor da igreja de Nossa Senhora, Cracóvia |
Os tártaros acabaram sendo repelidos.
O guarda que deu sua vida para salvar a cidade foi enterrado com todas as honras. Seu devotamento e seu sacrifício são lembrados até os nossos dias.
Desde então, a cada hora, um trompetista toca do alto da Torre da Guarda de Nossa Senhora em direção de todos os cantos da cidade, detendo-se abruptamente no momento correspondente àquele em que a flecha tártara cortou a vida do herói, há 800 anos.
De início ele toca em direção do Wawel – castelo real e cidadela da cidade. Depois se vira para a Torre da Prefeitura, a fim de avisar os conselheiros.
Em seguida toca em direção da Porta de Florian – entrada da cidade – e, por fim, em direção da Praça do Pequeno Mercado, bairro de mercadores e populares.
Ao meio-dia, ainda hoje a rádio polonesa transmite para todo o país o toque da Torre de Nossa Senhora de Cracóvia.
Nem sequer a longa opressão comunista conseguiu impedir a perpetuação do costume.
As reuniões solenes do Conselho Municipal começam ouvindo o toque.
No Cazaquistão e na Mongólia esta história é conhecida como “a lenda do trompete de ouro”.
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