A fonte de Santa Reine, Alise, Borgonha |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Havia pouco que a Gália se tornara cristã e os romanos já a atravessavam com estradas retas e seguras, templos de mármore e tijolo, fazendas bem ordenadas que eles chamavam de ‘vila’.
Em Alésia, César havia dado fim a Vercingétorix, acabando com a resistência dos gauleses.
Apesar da lembrança dos dias do sítio implacável, os nobres e os dirigentes empenhavam sua boa vontade em aplainar as dificuldades que podiam eclodir entre os novos senhores que pretendiam ser pacificadores, e os habitantes que povoavam os morros desde tempos imemoriais.
Os pontos de encontro eram a boa acolhida, o bom trato, a paciência, como também o comércio e os casamentos.
Romanos e gauleses trabalhavam para dar coesão ao país.
Porém, os romanos tinham um novo inimigo para combater: a religião cristã que se espalhava de modo cada vez mais rápido e profundo.
Foi nesse momento que um dia chegou a Alésia um certo Olibrius, prefeito do imperador, enviado para combater a nova religião.
Os nobres do burgo fizeram questão de recebê-lo bem.
Visitando a casa de um deles, Olibrius deitou o olho em Reine.
Ela era muito nova, muito bela e reservada.
A fonte de Santa Reine |
Pediu então ao pai a mão de sua jovem filha.
Porém, Reine se recusou.
O pai tentou convencê-la, explicou-lhe todo o bem que o casamento proporcionaria à pequena comunidade e ao país, mostrou-lhe as vantagens de tão belo partido.
Ele lhe rogou, chegou até ameaçá-la, mas Reine tinha uma boa razão para não se casar com Olibrius.
No fim, ela confessou: sua babá tinha feito dela uma cristã, e a cristã se recusava casar com um pagão.
A jovem foi jogada na prisão, numa cela escura e minúscula onde ficou privada de beber e comer.
As únicas visitas que recebeu foram de seu pai, que foi pressioná-la para que cedesse.
Depois chegaram os carrascos. Talvez a infeliz tivesse cessado de resistir se uma pomba não tivesse aparecido para reconfortá-la na prisão.
Por onde entrou essa pomba? De onde vinha? Ninguém soube.
Santa Reine, Alise, Borgonha |
Porém, seu destino era maior: ela ia se tornar uma mártir, uma santa, e por isso aconteceriam milagres.
No dia do derradeiro suplício aconteceu um grande tremor de terra que abalou o morro e derrubou a bacia.
A pomba voltou e depositou uma coroa na testa de Reine.
Alguns acharam que talvez naquele momento sua vontade seria mais forte que a de seu pai.
Este, porém, não entendeu assim e, fora de si de tanta cólera, ordenou que cortassem a cabeça da filha.
Desta vez Reine perdeu a vida, mas não foi em vão.
Uma fonte começou a brotar no mesmo ponto onde seu sangue molhou o chão.
E a água que ali brotava logo curou doentes e enfermos que se encontravam nas vizinhanças.
Obviamente, com essa água que devolvia a saúde e punha fim aos males propagaram-se a fama da jovem mártir e os milagres da nova religião.
Hoje, no mês de setembro de cada ano, os peregrinos voltam a Alésia para ali beber a água de fonte de Santa Reine.
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