E o jovem bateu na porta fortemente. Fundo: viela de Assis |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No princípio e fundação da Ordem, quando havia poucos irmãos e não havia conventos estabelecidos, São Francisco, por devoção, se foi a Santiago de Galícia, e levou consigo alguns irmãos, entre os quais um foi Frei Bernardo.
E seguindo assim juntos pelo caminho, acharam numa terra um pobre enfermo, do qual tendo compaixão, disse a Frei Bernardo: “Filho, quero que fiques aqui servindo a este enfermo”.
E Frei Bernardo, ajoelhando-se humildemente e inclinando a cabeça, recebeu a obediência do santo pai e ficou naquele lugar; e São Francisco com os outros companheiros foi a Santiago.
Ali ficando reunidos e estando de noite em oração na igreja de Santiago, foi por Deus revelado a São Francisco que ele devia fundar muitos conventos pelo mundo.
Porque sua Ordem se devia dilatar e crescer em grande multidão de frades; e por esta revelação começou São Francisco a estabelecer conventos naquela região.
E, voltando São Francisco pelo mesmo caminho, encontrou Frei Bernardo mais o enfermo com o qual o havia deixado, e que estava inteiramente curado.
E no ano seguinte permitiu a Frei Bernardo que fosse a Santiago; e assim São Francisco voltou ao vale de Espoleto; e aí ficaram em lugar deserto ele e Frei Masseo e Frei Elias e alguns outros, os quais tinham muito cuidado em não aborrecer ou perturbar São Francisco em sua oração.
E isto faziam pela grande reverência que tinham e porque sabiam que Deus lhe revelava grandes coisas na oração.
Frei Elias foi um frade cheio de soberba que acabou abandonando a Ordem de São Francisco |
Frei Masseo foi à porta e abriu-a e disse àquele jovem: “De onde vens tu, filho, que parece nunca teres vindo aqui, batendo de modo tão desusado?”
Respondeu o jovem: “E como é que se deve bater?”
Disse Frei Masseo: “Bate três vezes, uma após outra, devagar: depois espera que o irmão tenha rezado um pai-nosso e venha abrir, e se durante esse tempo ele não vier, bate; outra vez”.
Respondeu o jovem: “Tenho grande pressa, e bati com tanta força, porque tenho de fazer uma longa viagem, e vim aqui falar com o irmão Francisco; mas por ele estar agora em contemplação na floresta, não o quero incomodar.
Vai e manda-me Frei Elias, que lhe quero fazer uma pergunta, porque sei que' ele é muito sábio”.
Foi Frei Masseo e disse a Frei Elias que sé dirigisse àquele jovem: e ele se escandalizou e não quis ir; assim Frei Masseo não soube o que fazer nem o que responder àquele jovem; que, se dissesse: “Frei Elias não pode vir”, mentia; se dissesse que ele estava irritado e não queria vir, temia dar-lhe mau exemplo.
E porque no entanto Frei Masseo demorasse em voltar, o jovem bateu outra vez como a princípio; e pouco depois Frei Masseo retornou à porta e disse ao jovem: “Não observaste o que te ensinei ao bateres”.
Respondeu o jovem: “Frei Elias não quis vir a mim: vai e dize a Frei Francisco que vim para falar com ele; mas, por não querer perturbar-lhe a oração, dize-lhe que mande Frei Elias entender-se comigo”.
São Miguel Arcanjo, catedral de Bruxelas. Fundo: galaxia em espiral NGC1309, NASA |
Então São Francisco, sem mudar de lugar nem baixar o rosto, disse a Frei Masseo: “Vai e dize a Frei Elias que por obediência atenda imediatamente ao jovem”.
Ouvindo Frei Elias a ordem de São Francisco, foi à porta muito perturbado e com grande ímpeto e ruído a abriu e disse ao jovem: “Que queres?”
Respondeu o jovem: “Cuidado, irmão, não te irrites, como pareces estar, porque a ira tolhe o espírito e não te deixa discernir o verdadeiro”.
Disse Frei Elias: “Dize o que queres de mim”. Respondeu o jovem: “Eu te pergunto se àqueles que observam o santo Evangelho é lícito comer o que se põe diante deles, conforme o que disse Cristo aos seus discípulos: e te pergunto ainda se é lícito a algum homem obrigar a qualquer coisa contrária à liberdade evangélica”.
Respondeu com soberba Frei Elias: “Sei bem disto, mas não te quero responder; cuida de teus negócios”.
Disse o jovem: “Saberei melhor do que tu responder a esta pergunta”.
Então Frei Elias, furioso, fechou a porta e retirou-se. Depois começou a pensar nesta pergunta, a duvidar de si mesmo e não a sabia responder porque era vigário da Ordem e tinha ordenado e feito uma constituição, contra o Evangelho e contra a ordem de São Francisco, de que nenhum frade da Ordem comesse carne; por isso a dita pergunta era expressamente contra ele.
Pois, não sabendo explicar por si mesmo e considerando a modéstia do jovem e porque este dissera saber responder à pergunta melhor do que ele, volta à porta e abre-a para pedir ao jovem resposta à pergunta: mas se tinha ido, porque a soberba de Frei Elias não era digna de falar com o anjo.
Isto feito; São Francisco, a quem tudo era por Deus revelado, retornou da floresta e com veemência, em alta voz, repreendeu Frei Elias, dizendo:
“Mal fizeste, Frei Elias soberbo, que expulsaste de nós os santos anjos que nos vêm ensinar. Digo-te temer muito que a tua soberba te faça acabar fora da Ordem”.
E isto sucedeu como São Francisco predissera; porque morreu fora da Ordem.
No mesmo dia e à mesma hora em que o anjo partiu, apareceu na mesma forma a Frei Bernardo, o qual voltava de Santiago e estava à beira de um grande rio, e saudou-o em sua língua, dizendo: “Deus te dê a paz, ó bom irmão”.
E maravilhando-se muito Frei Bernardo, e considerando a beleza do jovem e a saudação feita em sua própria língua, com cumprimento pacifico e semblante alegre perguntou-lhe: “Donde vens tu, bom moço?”
Anjo. Comillas, Cantabria, Espanha |
Respondeu o anjo:
“Venho do convento onde vive São Francisco e fui ali falar com ele; e não pude, porque estava na floresta contemplando as coisas divinas e não o quis incomodar.
“E naquele convento residem Frei Masseo, Frei Egídio e Frei Elias; e Frei Masseo me ensinou a bater na porta como fazem os irmãos.
“Mas Frei Elias, por não ter querido responder à questão que lhe propus, arrependeu-se depois e quis ouvir-me e falar-me e não pôde”.
Após estas palavras, disse o anjo a Frei Bernardo: “Por que não passas à outra margem?”
Respondeu Frei Bernardo: “Porque temo o perigo pela profundidade da água que vejo”.
Disse o anjo: “Passemos juntos, não tenhas medo”. Tomou-lhe a mão e, num abrir e fechar de olhos, pô-lo na outra riba do rio.
Agora Frei Bernardo conheceu que ele era anjo de Deus, e, com grande reverência e gáudio, disse em voz alta: “Ó anjo bendito de Deus, dize-me como te chamas”.
Respondeu o anjo: “Por que perguntas meu nome, o qual é maravilhoso?”
E dizendo assim o anjo desapareceu e deixou Frei Bernardo muito consolado, de tal modo que toda aquela viagem fez com alegria, e tomou nota do dia e da hora em que o anjo lhe aparecera.
E, chegando ao convento onde estava São Francisco com os sobreditos companheiros, narra-lhes em ordem todas estas coisas, e conheceram com certeza que aquele mesmo anjo tinha aparecido no mesmo dia e na mesma hora a eles e a ele e deram graças a Deus. Amém.
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será que da para mandar para meu email ,,plinio300@hotmail.com,, os antigos e velhos comtos medievais
ResponderExcluirAmigo Plínio, tu deves se cadastrar nesse blog que eles enviam quase que diariamente as histórias fascinantes.
ResponderExcluirVá lá em cima onde está escrito: "RECEBA AS ATUALIZAÇÕES EM SEU E-MAIL". É só digitar o seu e-mail e confirmar depois. PRONTO.
Abraço
Rogério
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Rogério
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Rogério S.M.