domingo, 6 de dezembro de 2020

São Nicolau padroeiro dos navegantes, inimigo do diabo e da idolatria, terror dos maus governantes

São Nicolau salva os marinheiros, Museu de San Marco, Florenca
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs









CERTO DIA, alguns marinheiros que estavam em perigo, dirigiram-lhe por entre lágrimas esta oração:

‒ Nicolau, servo de Deus, se é verdade o que ouvimos a teu respeito, faz que agora o experimentemos.

Imediatamente lhes apareceu alguém parecido com ele, que lhes disse:

‒ Eis-me aqui, pois me chamastes!

E começou a ajudá-los nos mastros, nos cabos e nos outros aparelhos da nau, e logo a tempestade cessou. 

Depois, quando foram à sua igreja, reconheceram-no, embora nunca o tivessem visto nem alguém lho indicasse. Então deram graças a Deus e a ele pela sua salvação; o Santo, porém, ensinou-os a atribuir o milagre à misericórdia divina e à fé que haviam demonstrado, mas não aos seus méritos.

HOUVE TEMPO em que toda a região de São Nicolau foi assolada por uma fome tão grande que todos ficaram sem alimentos. 

Quando o homem de Deus ouviu que estavam no porto uns barcos carregados de trigo, foi logo lá e pediu aos marinheiros que lhe dessem, ao menos, cem moios [antiga unidade de medida] por cada nave, para matar a fome aos que estavam em perigo. Eles responderam-lhe:


São Nicolau, inimigo das falsas religiões, Lübeck, Annenmuseum.
‒ Pai, a isso não nos atrevemos, porque temos de entregar nos armazéns do Imperador o que foi medido em Alexandria.

‒ Agora, fareis o que vos digo ‒ disse-lhes o Santo ‒, pois, em nome de Deus, vos prometo que não tereis nenhuma diminuição quando chegardes junto do recebedor.

Tendo feito como ele dizia e entregado aos servos do Imperador a mesma medida que tinham recebido em Alexandria, contaram o milagre e, com grande louvor, atribuíram-no a Deus por intermédio do seu servo.

O homem de Deus distribuiu o trigo segundo a indigência de cada um, de modo que miraculosamente, durante dois anos, não só bastou para viverem, mas foi suficiente para as sementeiras.

NAQUELA REGIÃO prestava-se culto aos ídolos e o povo honrava sobretudo a nefanda Diana, a ponto de, até ao tempo do homem de Deus, terem sido muitos os camponeses que serviram essa execrável religião, fazendo determinados ritos dos gentios debaixo de certa árvore consagrada à deusa.

O homem de Deus baniu esse rito para fora das suas fronteiras e mandou cortar a árvore. Irado com isto, o antigo adversário fabricou um óleo mágico ‒ que, contra a natureza, arde na água e nas pedras ‒ e, transformando-se numa mulher religiosa, foi ao encontro de uns navegantes que a ele se dirigiam; então lhes falou assim:

‒ Gostaria de ir convosco ao Santo de Deus, mas não posso. Por isso, peço-vos que leveis este óleo para a sua igreja e que, em minha memória, unjais com ele as suas paredes.

E logo desapareceu. Mas avistaram um barquinho com pessoas honestas, entre as quais havia um muitíssimo parecido com São Nicolau que lhes perguntou:

‒ Olhai! Que vos terá dito ou vos deu aquela mulher?

Então eles contaram-lhe tudo do princípio ao fim. Disse-lhes ele:

‒ Esta é a impudica Diana; e para que vejais que falei verdade, atirai esse óleo ao mar.

Mal eles o atiraram, acendeu-se um grande fogo e, contra a natureza, viu-se arder no mar durante muito tempo. Quando chegaram junto do servo de Deus, disseram:

‒ Na verdade, tu és aquele que nos apareceu no mar e nos livraste das insídias do diabo.

São Nicolau, campeão da Justiça

NESSE MESMO TEMPO, houve um povo que se rebelou contra o Império Romano; o Imperador enviou contra ele três generais ‒ Nepociano, Urso e Apoio ‒ que entraram num porto do Adriático por causa do vento contrário; São Nicolau convidou-os a comer consigo, querendo que poupassem a sua gente às rapinas que faziam.

Entretanto, o Santo ausentou-se e o cônsul, corrompido por dinheiro, mandou decapitar três militares inocentes. Quando o santo homem tal ouviu, pediu àqueles generais que se dirigissem até lá em passo rápido.

Chegando ao lugar onde iriam degolá-los, encontrou-os de joelhos e de rosto coberto no momento em que o carrasco já vibrava a espada sobre as suas cabeças.

Nicolau, inflamado pelo zelo, arremessou-se audaciosamente contra o comandante, afastou o gládio para longe da sua mão, desamarrou os inocentes e levou-os incólumes consigo; dirigiu-se sem demora ao pretório do cônsul e abriu, à força, as portas fechadas.

O cônsul acorreu imediatamente e saudou-o; mas o Santo, recusando o cumprimento, disse-lhe:

‒ Inimigo de Deus, prevaricador da lei, culpado de tamanho crime, como te atreves a olhar-me no rosto?

Depois censurou-o com muita dureza, mas a pedido dos três chefes, aceitou-o benignamente como penitente. 

Uma vez recebida a bênção, os enviados imperiais puseram-se a caminho, submeteram os amotinados ao Império sem derramamento de sangue e, quando chegaram, foram magnificamente recebidos pelo Imperador.

Alguns, porém, invejosos da sua boa sorte, com pedidos e presentes sugeriram ao prefeito do Imperador que, perante ele, os acusasse do crime de lesa-majestade. 

Tendo sugerido isso ao Imperador, ele, cheio de um grande furor, ordenou que os encarcerassem e, sem qualquer interrogatório, naquela mesma noite os mandou matar.

Quando souberam isso por um guarda, rasgaram as suas vestes e começaram a gemer amargamente. 

Então, um deles, Nepociano, lembrando-se do modo como São Nicolau tinha livrado os três inocentes, exortou os outros a que suplicassem a sua ajuda. 

Tendo eles orado, naquela noite, São Nicolau apareceu ao Imperador Constantino e disse-lhe:

‒ Porque prendeste tão injustamente aqueles generais e os entregaste à morte, sem terem cometido crime algum?

Levanta-te e ordena que os soltem o mais depressa possível.

De contrário, pedirei a Deus que suscite uma guerra em que morras e sejas convertido em alimento das feras.

São Nicolau: terrível com os maus,
dadivoso com os bons. A seu lado, Santa Catarina
‒ Quem és tu ‒ disse-lhe o Imperador ‒, para entrares de noite no meu palácio e ousares dizer-me essas coisas?

‒ Sou Nicolau, bispo da cidade de Mira.

Mas também aterrorizou o prefeito da mesma maneira em sonhos, dizendo-lhe:

‒ O louco insensível! Porque consentiste na matança dos inocentes? Levanta-te depressa e esforça-te por libertá-los, se não o teu corpo ficará cheio de vermes e a tua casa em breve será destruída.

Ele replicou-lhe:

‒ Quem és tu para nos fazeres tais ameaças?

‒ Fica a saber ‒ respondeu ‒ que sou Nicolau, o bispo da cidade de Mira.

Por isso, ambos acordaram e imediatamente revelaram um ao outro os seus sonhos e, de contínuo, mandaram buscar aqueles encarcerados. 

Disse-lhes o Imperador:

‒ Que artes mágicas conheceis para nos enganardes com tais sonhos?

Responderam-lhe que não eram magos nem mereciam a sentença de morte. Volveu-lhes o Imperador:

‒ Conheceis um homem chamado Nicolau?

Quando eles ouviram este nome, estenderam as mãos para o céu pedindo a Deus que, pelos méritos de São Nicolau, os livrasse daquele perigo. 

Depois de saber por eles toda a sua vida e milagres, disse-lhes o Imperador:

‒ Ide, dai graças a Deus que vos libertou pelas suas orações e levai-lhe as nossas saudações, pedindo-lhe que nunca mais me ameace e que reze ao Senhor por mim e pelo meu Reino.

Poucos dias depois, aqueles homens foram ter com o servo de Deus e, prostrados a seus pés, logo humildemente lhe disseram:

‒ És verdadeiramente um servo de Deus e um fiel seguidor de Cristo.

Depois de lhe terem contado tudo em pormenor, ergueu as mãos ao céu e fez grandes ações de graças a Deus, mandando os prudentes generais regressar a suas casas.


 


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