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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Havia uns trabalhadores que diziam:
“Nós somos os que suportamos as dificuldades: sofremos tanto que somos como mártires o ano todo. Trabalhamos, trabalhamos, trabalhamos e nunca descansamos.
“Se o sol está quente, ele nos queima. Queiramos ou não, temos que sofrer enquanto serramos, debulhamos e colhemos.
“E seguimos trabalhando no inverno, com a neve, o frio, o vento; porque se não fizéssemos assim, não poderíamos colher.
“Mas, vocês, frades, têm o ambiente mais gostoso do mundo: no verão vocês estão no frescor, e no inverno no sol.”
Para! para ai! eu quero te responder.
Se a vida do frade fosse tão agradável como você diz, me surpreende muito que mais pessoas não venham viver em tanto conforto.
Não há muitas pessoas se interessando por esta vida tão saborosa.
Você diz que reúne o trigo no celeiro e enche os barris de vinho.
E para quem?
Para você e para nós também.
Tu falas a verdade; mas sossega um pouco, e ouve um exemplo que eu vou te contar, e então falarás o que queiras.
O fato aconteceu em um dos nossos conventos.
Um homem que morava perto e ia conversar com nossos frades disse a um deles:
“Não sei quem passa melhor do que você”. E deu suas razões:
“Nós vamos trabalhar com a enxada ou a pá, no frio ou no calor, nos ventos ou na neve, no granizo ou nas tempestades. O ano todo nós trabalhamos duro, suportamos dificuldades, ganhamos com suor o pão e o vinho.
“Vocês ficam aqui descansando: leem, escrevem. Quando faz calor vocês estão no frescor; quando faz frio vocês estão perto do fogo.
“Se vocês querem pão, o têm fresco todos os dias; da mesma forma o vinho e tudo o demais que vocês precisam.”
Quando esse homem disse tudo o que queria, o irmão porteiro respondeu:
“Você quer provar o trabalho que fazemos e escolher o mais agradável?”
O fazendeiro disse: “Sim, claro.”
O guarda diz: “então, qual vida experimentaremos primeiro, a tua ou a nossa?”
Ele respondeu: “Ah! Vamos experimentar a tua primeiro!”
O frade disse: “Trato feito: tu virás esta noite e tentarás prová-la por oito dias”.
Ele ficou feliz e à noite chegou à Ordem, e lhe ofereceram um jantar. Ele comeu o que lhe deram.
Então foi levado a dormir completamente vestido sobre um saco de palha sobre o qual não havia nada além de um pequeno cobertor, e talvez estivesse cheio de pulgas.
À meia-noite, o frade foi bater no quarto deste homem no mesmo horário que os outros frades e disse:
“Vamos, vamos, bom dia, meu camarada, vamos.”
Ele se levantou e foi à igreja com os frades.
O guardião lhe disse: “Você não conhece o Ofício divino: mas fica aqui dizendo Pai-Nossos enquanto nós rezamos as Matinas. Quando nos sentarmos, você sentará; e quando nos levantarmos, você se levantará.”
“A nós nos ensinaram começar pela manhã rezando: Domine, labia mea aperies”.
O homem não estava acostumado a ficar acordado na noite e começou a se curvar para a frente.
E o frade lhe dizia: “Fica acordado, irmão, fica acordado; não durma”.
Ele acordava atônito e começava a recitar Pai Nossos novamente.
Ele ficava parado um pouco, se inclinava para trás e caia dormido.
O frade insistia: “Levanta logo, reza alguns Pater Nosters; não no chão!”.
Em suma, o homem não conseguia e tinha que ser acordado muitas vezes.
Então disse ao irmão: “Oh, é isso que vocês fazem toda noite?”
O monge respondeu: “É isso que devemos fazer todas as noites”.
O fazendeiro respondeu: “Pelos evangelhos, que eu não quero passar mais noite alguma aqui!”
E ele ficou tão saciado em uma noite com a vida tão maravilhosa que tem os monges, que se levantou e disse:
“Abri a porta para mim, pois eu quero ir embora”.
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São Bernardino de Siena fez sermões e fábulas moralizadoras. |
(Autor: São Bernardino de Siena, “Apologhi e Novellette”, Intratext)
(São Bernardino de Siena (1380 — 1444) pregador e missionário franciscano, conhecido como "Apóstolo da Itália". Famoso já em seu próprio tempo por suas fortes pregações em praças e igrejas, principalmente contra a homossexualidade, infanticídio, bruxaria, feitiçaria, apostas, judeus e usuras. Foi um dos maiores propagadores da devoção ao Santíssimo Nome de Jesus e sistematizador da economia escolástica. Fonte: Wikipedia).
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