domingo, 16 de agosto de 2020

O pregador sutil que confundia os simples

Adaptação de 'O sono da razão produz monstros',  Francisco de Goya y Lucientes (1746-1828), Museo del Prado
Adaptação de 'O sono da razão produz monstros', 
Francisco de Goya y Lucientes (1746-1828), Museo del Prado
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Houve um frade da nossa ordem que era muito bom para pregar.

E falava com tantas sutilezas, mas tão sutil que era uma maravilha.

Era mais fino que o mais fino fio que podem fiar as moças.

Esse frade tinha um irmão de religião que era completamente o oposto.

Ele era grandão, e dos grosseiros, que causava assombro só de vê-lo tão grande que ele era.

Ele acostumava ir ouvir os sermões desse sutilíssimo irmão dele.

Um dia, aconteceu que depois de ouvir a pregação, tendo se reunido com os outros num círculo de outros frades, ele lhes perguntou:

“Ó vós, que assististes nesta manhã à pregação de meu irmão, que coisas nobres disse ele?·

Eles responderam: “O que ele disse? Oh! ele disse as coisas mais nobres que você já ouviu”.

“Então, contem-me o que ele disse”.

E eles contestaram: “Ele falou das coisas mais nobres do céu, mais do que tudo que jamais se ouviu”.

E acrescentaram: “por que? você por acaso não veio? Não acreditas que ele tenha dito as coisas mais nobres!”
“Bem, mas me contem o que ele disse”.

São José de Leonissa
São José de Leonissa
E os outros repetiam: “Mas como você perdeu o sermão mais bonito que já se ouviu!”

Finalmente, após insistir no pedido muitas vezes dessa maneira, ouviu:

“Ele falou as coisas mais altas e nobres que já se escutou. Ele falou coisas tão elevadas que eu não consegui entender nada”.

O pregador sutil era um desses, você me entende...!

Eu vos digo que vós tendes que pregar a doutrina de Cristo de maneira que todos a entendam.

E ainda vos lembro o salmo: Declaratio sermonum tuorum illuminat, et intellectum dat parvulis.

“Vossas palavras sejam uma verdadeira luz, que dá sabedoria aos simples”. (Salmos, 118)

Nossas palavras devem ser entendidas.

E vocês sabem como?

Falando com toda clareza, preto sobre branco, para que quem as ouça fique contente, iluminado e em nada embaralhado.




(Autor: San Bernardino de Siena, “Apologhi e Novellette”, Intratext)



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