domingo, 26 de abril de 2020

O menino que dava seu pão ao Menino Jesus

"Siempre Real Santo Niño de Malolos", Filipinas
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Vivia na cidade de Veneza um homem muito rico. Sua grande fortuna lhe permitia uma vida de luxo e comodidades.

Mas ele estava entristecido, sem poder desfrutar nada, pois todos os seus filhos morriam.

Tinha o coração triste, e nada o podia consolar.

Com satisfação trocaria todas as suas riquezas pelos filhos, embora ficasse na miséria, mas com eles.

Um único filho pequeno lhe restava.

Amedrontado com a ideia de perder também aquele, confiou-o ao abade de um mosteiro, convencido de que só a intervenção divina poderia conservar-lhe a vida.

O menino cresceu no mosteiro, em meio à dedicação de todos os monges, que gostavam dele e o atendiam.

Sempre alegre, percorria os claustros ou brincava nos jardins, onde admirava as flores ou comia os frutos que colhia.

Ele era o único menino ali.

Um dia, enquanto tomava sua merenda, entrou pela primeira vez na igreja, impressionando-se com a suntuosidade.

Ficou admirando com grande curiosidade a imagem da Virgem, que tinha nos braços o Menino Jesus, e alegrou-se por encontrar ali outro menino como ele.



Parecendo-lhe que o menino devia também ter fome, sem ter o que comer, subiu ao altar e ofereceu sua merenda ao Menino Jesus.

Durante muitos dias continuou levando o seu pão, do qual separava a melhor parte para dá-la ao Menino Jesus.

Ao cabo de um mês, o Filho da Virgem lhe disse:

— Não comerei mais do teu pão, se não quiseres ir comer comigo e com meu Pai celestial.

O menino ficou muito preocupado com essas palavras, e sem saber o que fazer para ir comer com o Menino Jesus.

Não havia dito nada aos monges, e resolveu contar ao abade o que tinha feito nos dias precedentes, e que o Menino da Virgem agora se recusava a comer, até que ele o acompanhasse ao Céu.

O abade pediu-lhe que o deixasse ir em sua companhia, quando fosse atender ao convite celestial, e que fizesse esse pedido ao Menino seu amigo.

Naquela mesma tarde reuniu todos os monges e pediu que escolhessem seu sucessor, porque deixaria o cargo.

Todos estranharam aquela decisão e a lamentaram, pois ele desempenhava muito bem a função, e todos o amavam.

Mas não se atreveram a perguntar-lhe a causa.

À noite todos se recolheram, como de costume, e ao clarear o dia o abade e o menino se sentiram doentes.

A doença se agravou, o médico foi chamado e diagnosticou em ambos a mesma doença, que era grave.

No mesmo dia morreram, com um sorriso nos lábios e banhados numa luz celestial, declarando aos monges que atendiam ao chamado para o banquete divino.



(Fonte: V. Garcia de Diego, "Antología de Leyendas de la Literatura Universal - Labor, Madrid, 1953)



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