A ponte do diabo de St. Guilhem-le-Désert |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Na região de Hérault, perto de Saint Guilhem-le-Désert, na França, há uma magnífica ponte.
Em tempos muito antigos, os pobres habitantes de Saint-Guilhem padeciam terrível isolamento. Era impossível atravessar o rio Hérault por causa dos abismos e dos redemoinhos. Por isso, eles tinham que enfrentar perigosas e longas travessias através das florestas e das montanhas.
Um dia, um dos habitantes teve que percorrer muitas léguas para contornar o rio.
Ele jurou então que faria tudo para evitar esses desvios.
Como acontece nesses momentos de cólera, juramentos e impaciência súbita, Lúcifer anda por perto.
Disfarçado, ele se aproximou de mansinho do nosso homem e com voz melosa, disse:
‒ “Quantas voltas para vender a mercadoria!”
“Tal vez eu possa ter a solução” |
‒ “Tal vez eu possa ter a solução...”, insinuou Belzebu.
‒ “E... o que é que você quer em troca, estrangeiro?...”
‒ “Bem, como sempre... tua alma!” soprou o diabo junto com um bafo de enxofre.
‒ “Escuta... a alma de minha sogra não te parece suficiente?...” negociou o homem.
‒ “Bom, a alma de uma mulher vale também... e até mais”, uivou o diabo.
‒ “Muito bem, eu vou trazê-la amanhã, mas com a condição de que a ponte seja bela, larga, elegante e esteja terminada em 24 horas...”
A ponte do diabo sobre o rio Hérault |
‒ “Bom, até amanhã, bom homem. A primeira pessoa que atravessar a ponte será minha por...”, mas ele não teve tempo de concluir a frase de tal maneira estava apressado querendo voltar aos infernos e procurar algum plano de construção.
A ponte de incrível engenharia foi construída numa noite.
Porém, pela manhã ninguém criava coragem para atravessá-la.
Pois, durante a noite nosso homem teve uma idéia. Em lugar de sacrificar sua sogra, ele mandou atravessar a ponte a... um gato.
O coitado do animal foi sacrificado pelo bem da comunidade.
Satanás perdeu a cabeça de cólera. Ele uivava de ódio e gesticulava de modos apavorantes.
Ele mergulhou como um louco no meio de um redemoinho.
O pároco de Saint-Guilhem então teve que jogar água benta no local.
E, desde aquela época, Lúcifer tenta em vão sair do sorvedouro.
Mas, hoje são poucas as pessoas que cruzam o rio por essa antiga ponte.
Pois todos sabem que um belo dia o diabo pode sair à superfície e reclamar o pagamento de sua obra.
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