Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Uma vez o conde Lucanor voltava muito cansado, sofrido e pobre de uma batalha.
Porém, antes que pudesse descansar, chegou-lhe a notícia de que se preparava mais uma guerra.
Muitos dos seus o aconselharam a descansar por certo tempo. Só depois poderia decidir o que achasse mais conveniente.
O conde perguntou a Patrônio sua opinião sobre este assunto.
Patrônio lhe disse:
— Senhor, para que possais fazer o melhor e mais conveniente, gostaria muito de vos contar a resposta que deu certa vez o conde Fernán González a seus vassalos.
O conde perguntou a Patrônio o que lhes tinha dito.
— Senhor conde – contou Patrônio – quando o conde Fernán González venceu ao rei Almanzor em Hacinas, muitos de seus soldados morreram e muitos dos sobreviventes, inclusive ele próprio, receberam graves feridas.
Antes que pudessem ser curados, soube o conde que o rei de Navarra ia atacar suas terras. Por isso, ordenou aos seus a se aprontarem para lutar contra os navarros.
Seus soldados lhe responderam que os cavalos estavam cansados, que eles também estavam, e que embora isso não os impedisse de entrar em combate, não devia fazê-lo, porque ele e todos os demais estavam malferidos, pelo que convinha aguardar até que todos estivessem curados.
Sepulcro de Fernán González tendo junto dois pendões de Castela |
— Amigos, não abandonemos a empresa por causa das feridas, pois as novas que agora nos causarão, farão com que nos esqueçamos das recebidas em Hacinas, diante do mouro Almanzor.
Vendo os seus que o conde não se preocupava nem com o cansaço nem com as feridas para defender sua honra e sua terra, marcharam junto com ele.
O conde e seus soldados ganharam essa nova batalha e saíram vitoriosos.
Vós, senhor Conde Lucanor, se quiserdes fazer o que se deve para defender os vossos, as vossas terras e elevar a vossa honra, nunca sintais a dor, as fadigas ou os perigos, mas agi de maneira que os novos perigos e dores vos façam esquecer os passados.
O conde viu que esse exemplo era bom, seguiu-o e lhe foi muito bem.
E julgando o Infante Don Juan que este conto era muito bom, mandou guardá-lo neste livro e acrescentou os versos que dizem assim:
Tende isto por certo, pois é verdade provada:
que a folgança e a honra não partilham morada.
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