Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Há muito, muito tempo, um lenhador atravessava a floresta de Arnsbourg, entre Niederbronn e Mühltal, na Alsácia, França.
O calor estava insuportável e a seca ia longe, fazendo o pobre homem sofrer terrivelmente de sede.
Para a infelicidade do corajoso homem não havia córrego algum para dessedentá-lo.
Passando perto das ruínas de um antigo castelo, ele julgou sentir um bom odor de vinho, e pensou:
“Se houvesse pelo menos alguém que pudesse dar-me um pouco de vinho!”
Nessa hora, apareceu subitamente no meio das ruínas um homenzinho de longa barba branca, com um avental de couro e um maço de chaves no cinto, que lhe fez sinais amistosos e convidou-o a acompanhá-lo.
O lenhador decidiu seguir a mesma direção do tanoeiro sem fazer perguntas, e juntos pularam cada vez mais açodadamente de degrau a outro, em boa parte derruídos e cobertos de musgo.
Escadaria nas atuais ruínas do castelo de Arnsbourg |
O lenhador desconfiou, mas queria vinho. Sim, o vinho cujo perfume embriagante ele tinha farejado.
E quanto mais se afundava por essa escadaria desconhecida, mais crescia nele o desejo devorador de sorver o líquido da perdição.
De repente, o misterioso tanoeiro se deteve diante de uma imensa e sólida porta, e pegando uma gigantesca chave enferrujada que estava em seu maço, abriu-a.
Eles entraram numa grande adega com o teto em arcos, muito fresca e com um pequeno odor inebriante, forte e suave: o vinho!
Ruínas atuais do castelo de Arnsbourg. |
– “Pega, bebe, é o mesmo vinho que bebia o senhor de Arnsbourg e que eu só podia lhe servir nos dias de festa. Eu fui seu tanoeiro, mas fui condenado a ficar aqui durante mais duzentos anos, sem poder gozar da paz eterna, porque quando estava vivo eu punha água no vinho dos servidores”.
O lenhador bebeu com grandes goles. Jamais havia provado um vinho tão bom. Nunca ficara com tanta energia, juventude e alegria.
E após agradecer ao tanoeiro com um sorriso, voltou para casa animado e com novas forças.
De volta à aldeia, ele contou toda a história, que se espalhou pela região.
Mas ninguém acreditou, pois as pessoas percebiam que ele tinha perdido o juízo.
Passou-se o tempo e muitos “pais da vida” e beberrões quiseram visitar as ruínas do castelo de Arnsbourg.
Mas o tanoeiro nunca mais voltou a aparecer.
Desde aquela época, em determinados anos, durante a floração dos vinhedos, os vinhateiros afirmam que um perfume agradável e subtil sai do chão e envolve todas as ruínas do castelo.
A tradição popular diz que nesses anos “haverá abundantes colheitas de uva na Alsácia, e que no outono as adegas se encherão de um vinho generoso”.
Mas, em são juízo, ninguém quer saber mais sobre o misterioso tanoeiro que enche os outros de vinho, mas lhes tira a razão.
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