Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs No...
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Santiago de Compostela e o 'botafumeiro'
Contos medievais: ensino sábio e verdadeiro
“Em poucos momentos da história a literatura se revestiu de caráter tão “engajado” e participativo como na Idade Média.
“Nada é mais estranho à mentalidade medieval que certo esteticismo do tipo ‘a arte pela arte’, ou a redução da obra literária a mero objeto de entretenimento e evasão.
“Ao contrário, o escritor daqueles tempos sentia-se imbuído da tarefa de instruir os leitores.
“Mesmo um simples conto de aventuras, afirma um poeta da segunda metade do séc. XII, é ocasião de oferecer ensinamentos ao público.
“’Não é sábio’, diz Chrétien de Troyes, ‘quem não difunde seus conhecimentos, se Deus lhe dá oportunidade de fazê-lo’.”
Foi com um misto de respeito e de amor que estudamos longamente essas tradições inumeráveis de gerações fiéis, nas quais a fé e a poesia cristãs, as mais altas lições da religião e as mais deliciosas criações da imaginação se confundiam numa união tão intima que não sabemos como separá-las.
Mesmo se não tivéssemos a felicidade de crer com inteira simplicidade nas maravilhas do poder divino que elas relatam, jamais sentiríamos a coragem de menosprezar as crenças inocentes que tocaram e encantaram milhões de nossos irmãos durante tantos séculos.
Tudo o que elas podem encerrar, mesmo de pueril, se eleva e se santifica a nossos olhos, por ter sido o objeto da fé de nossos pais, daqueles que estavam mais próximos de Cristo do que nós.
Longe disto, confessamos em alta voz que ai encontramos muitas vezes socorro e consolação. E não somos os únicos.
Porque, se por toda porte as pessoas que se dizem esclarecidas e sábias as desprezam, há ainda refúgios nos quais essas doces crenças permaneceram caras aos pobres e aos simples.
Sob o ponto de vista puramente histórico, as tradições populares, e notadamente aquelas que se ligam à religião, se não têm uma certeza matemática, se não são o que se chama de fatos positivos, ao menos tiverem força, e exerceram sobre as paixões e os costumes dos povos uma influência muito maior que os fatos mais incontestáveis para a razão humana.
A este titulo certamente merecem a atenção e o respeito de todo historiador sério e solidamente crítico.
São Luis, morrendo pela Cruz além mares, invocava com fervor a humilde pastora, padroeira de sua capital.
Os bravos espanhóis, fustigados pelos mouros, viam Santiago misturar-se em suas fileiras. E, voltando à carga, mudavam logo sua derrota em vitória.
Os cavaleiros e os nobres senhores tinham por modelos e patronos São Miguel e São Jorge; por senhoras de suas piedosas cogitações, Santa Catarina e Santa Margarida; e, se lhes acontecia de morrerem prisioneiros e mártires pela fé, pensavam em Santa Inês, a menina que tinha também dobrado o pescoço sob o ferro do carrasco.
Não acabaríamos mais se tentássemos especificar os inumeráveis laços que ligavam assim o Céu e a Terra, se penetrássemos nesta vasta esfera na qual todas as afeições e deveres da vida mortal encontravam-se entrelaçados com proteções imortais, na qual as almas, mesmo as mais desamparadas e solitárias, encontravam todo um mundo de consolações e de interesses, ao abrigo das decepções daqui de baixo. Todas essas piedosas tradições, umas locais, outras pessoais, se eclipsavam e se confundiam naquelas que o mundo inteiro repetia a respeito de Maria.
Rainha da Terra e Rainha de Céu, enquanto todas as frontes e corações estavam inclinados diante dEla, todos os espíritos eram inspirados por Sua gloria; enquanto o mundo cobria-se de santuários, de catedrais elevadas em Sua honra, a imaginação dessas gerações poéticas não cessava de falar da descoberta de novas perfeições, de novas belezas, no seio dessa beleza suprema.
Cada dia via brotar alguma legenda mais maravilhosa, algum novo adereço de jóias que o reconhecimento do mundo oferecia Àquela que lhe havia reaberto as portas do Céu, repovoado as fileiras dos anjos, tirado aos homens o direito de se queixar do pecado de Eva; à humilde serva coroada por Deus com a coroa que Miguel arrancara a Lúcifer, precipitando-o nos infernos.
“Ah! ― exclama Walter ― cantemos sempre esta doce Virgem, a quem Seu Filho nada sabe recusar. Eis a nossa consolação suprema: é, no Céu, fazermos tudo o que Ela quiser.”
E cheia de inquebrantável confiança no objeto de tanto amor, convencida de sua vigilância materna, a Cristandade encomendava-se a Ela em todas as suas penas e perigos, e se repousava nessa confiança:
Mas Nossa Senhora está desperta... Jamais Ela, a gloriosa, Foi sonolenta ou preguiçosa...
Fonte : Charles de Montalembert, « Histoire de Sainte Élisabeth de Hongrie », Pierre Téqui, Libraire-Éditeur, Paris, 1930, pp, 141 a 151.
Todas as pessoas acrescentam algo de poético ao mundo. A todas as coisas acrescentamos algo de poético. É uma necessidade incontornável. Canções, histórias e poesia são a bela túnica com a qual nosso espírito reveste o mundo.
Somente as personalidades que surgem da imaginação, como os heróis, as grandes figuras da História — Carlos magno, por exemplo — são as que se põem para a fantasia de um povo como representantes de forças superiores e misteriosas.
É como se os homens do dia-a-dia, na sua sede de maravilhoso, adornassem os grandes personagens com forças e poderes que eles na realidade não chegaram a ter. Eles desejam que assim tivesse sido no passado, porque o homem não pode viver sem o maravilhoso.
Em quase todos os países se cogita de tesouros enterrados e seus guardiões, de castelos fantásticos, de sinos submersos que emergem das profundezas da água, e que tocam.
Por isso existe nas lendas algo de respeitável, digno de honra. Mesmo que aquilo que contêm nunca tenha acontecido, no entanto elas são reais, pelo fato de revelarem o sentimento da humanidade como Deus o criou.
Com certeza se trata de uma instituição sábia o fato de que do fundo do coração acrescentamos algo de criativo àquilo que vemos, ouvimos e apalpamos com as mãos. Isso se chama poesia.
Ela é uma dádiva de Deus aos homens, e se ela encontra eco nas suas almas, alegra ao mesmo tempo os homens e seu Altíssimo doador.