domingo, 22 de fevereiro de 2015

A cotovia




Existe na Polônia uma bela e comovente lenda sobre a criação da cotovia.

Quando Deus viu que os primeiros homens, expulsos do paraíso, trabalhavam duramente, e durante trabalho inclinavam tristemente a cabeça para o solo, tomou um punhado de terra e lançou-a ao ar...

E este punhado de terra assim lançado por Deus, transformou-se num passarinho, a primeira cotovia, cujo canto faz elevar para o céu a cabeça do homem e conforta o lavrador banhado em suor.

A cotovia da nossa vida terrestre é a nossa fé inquebrantável em Deus. Quando nossa cabeça fatigada se inclina para a terra, a fé levanta-a para as alturas.

Quando as ondas do sofrimento quase nos sepultam; a fé nos alenta. E quando o sofrimento da existência nos crava na cruz, a fé nos dá de novo consolação e alívio.

A lenda continua. A pequena cotovia quis mostrar-se reconhecida para com Deus e enquanto o Salvador percorria, pregando, a Palestina, todos os dias pousava na janela da Virgem Maria.


Na Cruz a cotovia pousou numa das mãos ensanguentadas e às bicadas procurou arrancar o cravo pontiagudo.

Tentou..., mas não pode consegui-lo. Baixou então para junto da Mãe Dolorosa e com seu canto enternecedor consolou-a da sua imensa amargura...

La Grande Pietà. Jean Malouel (1365 - 1415), Museu do Louvre, Paris.
A nossa fé em Deus e os nossos olhos postos em Jesus Crucificado não podem arrancar os cravos da nossa cruz; mas, pelo menos, falam-nos da outra vida, da eterna felicidade, cujas portas se nos abrem por meio do sofrimento suportado com paciência.

Por isso, ainda que sejamos envolvidos pela noite negra da dor e pela escuridão mais densa do que a do Egito, a nossa alma receberá os raios consoladores da eterna felicidade.

Homens, irmãos, todos os que estais crucificados pela dor: Ouvis o canto consolador da cotovia, da nossa Fé?...

‒ Quero o que Deus quer.

(Fonte: Mons. Thamer Tóth, O Redentor, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1ª edição - 1952, pp. 191 e 192)


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