Os monges cistercienses criaram o vinhedo famoso da Borgonha |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Na Idade Média, os monges cistercienses exploravam a quase totalidade do célebre vinhedo da Borgonha.
E isso com toda justiça, pois foram eles que desbravaram suas terras e plantaram as vinhas.
Pesados comboios saíam regularmente das vinícolas e adegas da região para irem prover as abadias das cidades.
Numa jornada muito fria de dezembro, num desses comboios seguia para Dijon.
Dois monges bem agasalhados conduziam as charretes, que a todo o momento escorregavam sobre o gelo.
O destinatário da carga era o abade de São Benigno.
No frio iam os dois monges vinhateiros, sonhando com a acolhida calorosa que lhes reservariam seus irmãos de Dijon.
Antes de partir, os dois não haviam se esquecido de colocar a viagem sob a proteção de São Vicente, padroeiro dos vinicultores, e de Nossa Senhora do Bom Caminho.
Vinhos da Borgonha com nomes de abadias. Fundo: Abadia de Fontenay |
Faltando apenas uma meia hora para eles verem as portas de Dijon, o comboio foi assaltado por uma dezena de homens de rosto patibular.
– “Nós também temos sede”, tentaram explicar. Mas suas intenções de se apoderar da carga estavam perfeitamente claras.
Nas horas graves o temperamento de cada um se revela. Um dos monges ajoelhou-se e começou a implorar a São Vicente.
O outro, louco de cólera diante da ideia de que essa bebida destinada a santos irmãos fosse dessedentar sacrilegamente aqueles bandidos, foi furando os tonéis.
Mais valia perder duas barricas de bom vinho do que deixá-las em mãos ímpias.
Mas as reações na aparência contraditórias de ambos se conjugaram de modo feliz, pois enquanto o vinho começou a derramar-se dos tonéis furados, São Vicente fez a temperatura cair a um nível tal que o vinho congelou imediatamente.
Ao mesmo tempo, os tonéis viraram um bloco de gelo e o vinho derramado transformou tonéis, charretes, rodas, e até a própria estrada, numa só peça de gelo.
São Vicente padroeiro dos vinicultores |
Vendo baldados seus esforços, desapareceram do mesmo jeito como tinham aparecido.
Então a temperatura aqueceu de novo o suficiente para liberar as charretes, e o comboio repartiu a toda velocidade. Os dois monges conduziram a carga ao seu bom destino.
A narração desta aventura encheu o abade de admiração e de maravilhamento: São Vicente sempre era invocado para afastar as ameaças da geada.
Mas, dessa vez, mandou o gelo para salvar os bons monges e seu vinho.
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