domingo, 11 de novembro de 2018

Como São Francisco miraculosamente curou o leproso de alma e corpo; e o que a alma lhe disse subindo ao céu

São Francisco, Giovanni da Milano
(ativo entre 1346 e 1369)
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






O verdadeiro discípulo de Cristo, meu senhor São Francisco, vivendo nesta miserável vida, com todo seu esforço se empenhava em seguir a Cristo perfeito mestre.

De onde advinha frequentes vezes, por divina inspiração, que, de quem ele sarava o corpo, Deus na mesma hora lhe sarava a alma, tal como se lê de Cristo.

Pelo que servia não só voluntariamente os leprosos, mas havia também ordenado que os frades de sua Ordem, andando ou parando pelo mundo, servissem aos leprosos pelo amor de Cristo, o qual quis por nós ser considerado leproso.

Adveio em um lugar próximo ao em que morava São Francisco, servirem os frades em um hospital a leprosos e enfermos, no qual havia um leproso tão impaciente e insuportável e arrogante que cada um acreditava certamente, e assim o era, estar possuído do demônio.

Porque aviltava com palavras e pancadas tão cruelmente a quem o servisse, e, o que era pior, com ultrajes blasfemava contra Cristo bendito e sua Santíssima Mãe, a Virgem Maria, que por nenhum preço se encontrava quem o pudesse ou quisesse servir.

E ainda que os frades procurassem suportar pacientemente as injúrias e vilanias para aumentar o mérito da paciência, no entanto não podiam em sua consciência sofrer as contra Cristo e sua mãe, resolvendo por isso abandonar o dito leproso.

Mas não o quiseram fazer sem falar antes, conforme a Regra, com São Francisco, o qual vivia então em um convento próximo dali.



São Francisco e o lobo, basílica de Santa Fé, New Mexico.
E tendo-lho explicado, São Francisco foi procurar aquele leproso perverso; e aproximando-se dele, saúda-o, dizendo: “Deus te dê a paz, irmão meu caríssimo”.

Respondeu o leproso com arrebatamento: “E que paz posso ter eu de Deus que me tirou a paz e todos os bens e me fez todo podre e asqueroso?”

E São Francisco disse: “Filho, tem paciência; porque as enfermidades do corpo nos são dadas por Deus neste mundo para a salvação da alma, pois são de grande mérito quando suportadas em paz”.

Responde o enfermo: “E como posso suportar com paciência o tormento contínuo que me aflige de dia e de noite? E não somente me aflige essa enfermidade, mas muito pior fazem os teus frades que me deste para me servir, e não me servem como devem”.

Então São Francisco, conhecendo pela divina revelação que este leproso estava possuído do espírito mau, foi e se pôs em oração e suplicou devotamente a Deus por ele.

E terminada a oração, volta a ele e diz-lhe: “Filho, quero servir-te eu, porque não estas contente com os outros”.

“Esta bem, disse o enfermo; que me podes fazer mais do que os outros?”

Responde São Francisco: “Farei o que quiseres”.

Disse o leproso: “Quero que me laves todo o corpo; porque tenho cheiro tão ruim, que nem mesmo eu me posso suportar”.

São Francisco expulsa os demonios de Arezzo, Benozzo Gozzoli
Então São Francisco mandou ferver água com muitas ervas aromáticas: depois lhe tira a roupa e começa a lavá-lo com as suas mãos, enquanto outro irmão punha-lhe água em cima.

E por divino milagre, onde São Francisco tocava com suas mãos, desaparecia a lepra e a carne ficava perfeitamente curada.

E quando começou a carne a sarar, também começou a alma a sarar; donde o leproso, vendo-se começar a curar, começou a ter grande compunção e arrependimento dos seus pecados e a chorar amarissimamente: de modo que, enquanto o corpo se limpava por fora da lepra pela lavagem com água, a alma se limpava por dentro do pecado pela contrição e pelas lágrimas.

São Francisco, João de Flandes
E ficando completamente sarado quanto ao corpo e quanto à alma, humildemente reconheceu sua culpa e disse chorando em altas vozes:

“Ai de mim, que sou digno do inferno pelas vilanias e injúrias que fiz e disse aos frades e pela impaciência e pelas blasfêmias que disse contra Deus”.

E perseverou por quinze dias em amargo pranto por seus pecados e em pedir misericórdia a Deus, confessando-se ao padre inteiramente.

E São Francisco, vendo um milagre tão expressivo, o qual Deus tinha operado pelas mãos dele, agradeceu a Deus e partiu-se, indo daí a terras muito distantes: porque por humildade queria fugir de toda a glória humana, e em todas as suas operações só procurava a honra e a glória de Deus e não a própria.

Pois, como foi do agrado de Deus, o dito leproso, curado do corpo e da alma, após quinze dias de penitência, enfermou de outra enfermidade: e armado com os santos sacramentos da santa madre Igreja, morreu santamente; e sua alma, indo ao paraíso, apareceu nos ares a São Francisco, que estava em uma selva em oração, e disse-lhe:

“Reconheces-me?”

“Quem és?”, disse São Francisco.

E ele disse: “Sou o leproso, o qual Cristo bendito sarou por teus méritos, e hoje vou à vida eterna, pelo que rendo graças a Deus e a ti. Bendito sejam tua alma e teu corpo e benditas as tuas palavras e obras: porque por ti muitas almas se salvarão no mundo: e saibas que não há dia no mundo no qual os santos anjos e os outros santos não deem graças a Deus pelos santos frutos que tu e a Ordem tua fazeis em diversas partes do mundo: e portanto toma coragem e agradece a Deus e fica com a sua bênção”.

E ditas estas palavras subiu para o céu; e São Francisco ficou muito consolado.

Em louvor de Cristo. Amém.



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