domingo, 24 de abril de 2022

Os pombos da Praça do Mercado

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






A Praça do Mercado é o coração palpitante de atividade de Cracóvia.

Sua história é milenar e transcorre aos pés da grande igreja de Nossa Senhora.

Entre igrejas, palácios, casas burguesas, lojas populares e carruagens puxadas por cavalos, voam pombas em quantidades notáveis.

De onde vieram? Como chegaram até lá? Por que ficam nessa praça? Aguardam alguma coisa?

Os habitantes de Cracóvia os amam especialmente. Por quê?

No fim do século XIII, o príncipe Henrique IV, o Probo, estava instalado no trono de Cracóvia.

Porém, ele não era rei, uma vez que a Polônia estava dividida em vários principados autônomos sem um monarca que os reunisse.

O príncipe Henrique queria reuni-los todos de novo sob um só soberano.

Porém, para ser rei da Polônia ele precisava a aprovação do Papa. Somente o Sumo Pontífice podia consagrar a coroa real e presidir a sagração do rei.

Naquele tempo, o Sumo Pontífice em Roma era Nicolau IV.

Era o tempo das últimas Cruzadas e da perda do último bastião cruzado na Terra Santa: a fortaleza de Acre.

Henrique planejou partir para Roma, porém não tinha dinheiro suficiente.

Ele gastou tudo o que tinha para armar os cavaleiros que o ajudaram a reunir certas terras dispersas.

Ele teria recorrido então a uma bruxa.

A feiticeira prometeu-lhe solucionar seu problema de dinheiro com uma condição: ela transformaria seus cavaleiros em pombas que procurariam pedrinhas durante o dia para depositá-las na Praça do Mercado.

E, durante a noite, as pedrinhas virariam ouro.

Porém, os cavaleiros só recuperariam seus corpos após o retorno a Cracóvia do Príncipe coroado.

Houve longos debates entre o Príncipe e os cavaleiros. Por fim, o Príncipe consentiu nas condições da bruxa.

Todo o exército de brilhantes e corajosos cavaleiros se transformou num bando de pássaros.

Os pombos trouxeram laboriosamente as pedrinhas durante o dia e as depositaram no meio da Praça.

Pelo fim do dia haviam reunido um belo montículo que virou ouro durante a noite.

O Príncipe guardou o ouro em cofres e alforjes e partiu rumo a Roma.

Os pombos ficaram na Praça aguardando seu retorno à Polônia.

Porém, o Príncipe nunca chegou até Roma. Passando por Veneza, ele se deteve demais.

Outros príncipes malevolentes espalharam que ele esbanjava em festas e prazeres proibidos todo o dinheiro que tinha levado.

Algumas fontes históricas falam que ele perdeu seu ouro em emboscadas na estrada.

Em 1289, Henrique retornou a Cracóvia sem a coroa.

Até a sua morte ele não ousou comparecer na Praça do Mercado, de vergonha de olhar seus fiéis companheiros transformados em pombas.

O Príncipe morreu no ano seguinte, provavelmente envenenado e seus cavaleiros nunca recuperaram sua natureza humana.


Há 700 anos eles voam sobre o Mercado, aguardando seu Príncipe para se livrarem do bruxedo.

Entrementes, 30 anos depois da morte do Príncipe Henrique, um outro príncipe de Cracóvia, Ladislau I o Breve, recebeu a coroa do Papa Joao XXII e tornou-se o novo rei da Polônia. Seu filho Casimiro III o Grande completou a restauração do esplendor e do poder do Reino.

A lenda dos pombos continua a lembrar hoje que embora as bruxas existam e manipulem poderes preternaturais e satânicos, é preciso não acreditar nelas sob pena de punições tremendas e inesperadas.

(Fonte: “Légendes de Cracovie”, Wydawnictwo Wam, Cracóvia, 1972, p. 26 a 29)



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Um comentário:

  1. Gostei muito desta lenda.
    A conclusão que eu tirei é que devemos primeiro acreditar em nossas boas intenções, antes de ouvir ideias mirabolantes...

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