domingo, 8 de novembro de 2020

O jovem frade que abominava a túnica

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Um jovem muito nobre e delicado veio para a Ordem de São Francisco: o qual depois de alguns dias, por instigação do demônio, começou a ter tal abominação ao habito que vestia, que lhe parecia trazer um saco vilíssimo.

Tinha horror às mangas, abominava o capuz, e o comprimento e a grandeza lhe pareciam carga insuportável.

E crescendo-lhe assim o desgosto pela Ordem, deliberou finalmente deixar o hábito e voltar ao mundo.

Tomara por costume, conforme lhe ensinara seu mestre, todas as vezes que passavam em frente do altar do convento, no qual se conservava o corpo de Cristo, ajoelhar-se com grande reverência e tirar o capuz e inclinar-se com os braços em cruz.

Sucedeu que naquela noite, na qual devia partir e deixar a Ordem, foi-lhe preciso passar diante do altar do convento; e passando, segundo o costume, ajoelhou-se e fez reverência.

E subitamente arrebatado em espírito, foi-lhe mostrada por Deus uma maravilhosa visão: repentinamente viu diante de si passar quase infinita multidão de santos como em procissão, dois a dois, vestidos todos de belíssimo e precioso pano.

As faces deles e as mãos resplandeciam como o sol, e iam com cânticos e música de anjos, entre os quais santos havia dois mais nobremente vestidos e adornados do que todos os outros.

Estavam cercados de tanta claridade, que grandíssimo assombro faziam a quem os olhava, e quase no fim da procissão viu um ornado de tanta glória que parecia um cavaleiro novo, mais honrado do que os outros.

Vendo o dito jovem esta visão, maravilhava-se e não sabia o que queria dizer aquela procissão e não tinha coragem de indagar e estava estupefato de enlevo. 

Tendo passado a procissão, ele, enchendo-se de coragem, corre em direção aos últimos, e com grande temor pergunta-lhes, dizendo:

– “O caríssimos, peço-vos o favor de dizer-me quem são estas maravilhosas pessoas que vão nesta procissão venerável”.

Responderam-lhe:

– “Sabe, filho, que todos nós somos frades menores que vimos agora da glória do paraíso”

E ele ainda perguntou:

– “Quais são aqueles dois que brilham mais do que os outros?” Responderam-lhe:

– “Aqueles são São Francisco e Santo Antônio: e aquele último que vês tão honrado, é um santo frade que morreu há pouco tempo.

“O qual, porque valentemente combateu contra as tentações e perseverou até ao fim, agora o levamos em triunfo à glória do paraíso; e estas vestes de fazendas tão belas que trajamos, foram-nos dadas por Deus em troca das ásperas túnicas as quais nós pacientemente suportamos na Ordem; e a gloriosa claridade, que vês em nós, foi-nos dada por Deus pela humildade e paciência e pela santa pobreza e obediência e castidade as quais observamos até ao fim.

“E portanto, filho, não te seja molesto trazer o saial da Ordem tão frutuoso, porque, se com o saco de São Francisco desprezares o mundo e mortificares a carne, e contra o demônio combateres valentemente, terás conosco semelhante veste e claridade de glória”.


E ditas estas palavras, o jovem voltou a si, e confortado pela visão expulsou de si todas as tentações e confessou a sua culpa diante do guardião e dos frades; e dai em diante desejou a aspereza da penitência e das vestes e acabou a vida na Ordem em grande santidade.

Em louvor de Cristo. Amém.

(Fonte: “Fioretti de São Francisco”, cap. 20)



CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS HEROIS ORAÇÕES CIDADE SIMBOLOS
AS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

4 comentários:

  1. Olá.
    Sou contadora de historias para cças e adultos e adoro esses contos. Grata por enriquecer meu repertorio.
    Bom Dia!!!

    ResponderExcluir
  2. Juarez Batista Leite6 de maio de 2012 às 09:46

    Como é bom ler algo dos Fioretti de São Francisco,pois nos tempos de hoje o hábito religioso não tem recebido a devida consideração e com isso perdem as Congregações Religiosas e a Sociedade que não tem sabido distinguir ao certo o Sagrado do profano.

    ResponderExcluir
  3. AMO ESTES CONTOS NAO PERCO UM GOSTO MUITO DESSAS HISTORIAS ANTIGAS ,E PRICIPALMENTE HISTORIAS DA IGREJA CATOLICA
    GOSTARIA DE VER MAIS DESSAS LINDAS HISTORIAS PULICADAS NAO REPETIDAS POR FAVOR COLOQUEM MAIS HISTORIAS PRINCIPALMENTE AS QUE NAO ESTAO ESCRITAS EX: ESTAS DE SANTO ANTONIO E SAO FRANCISCO DE ASSIS SAO NICOLAU E ALGUNS FRADES ERANCISCANO.

    ResponderExcluir
  4. Tocante. Eu sempre meditei como a túnica deve ser penosa penitência, ainda mais no clima tropical úmido daqui do ES, terra franciscana. Há uma lenda retratada no grande vitral do retábulo da igreja do Santuário do Divino ES, mostrando São Francisco visitado por colibris que pediram para o frei abençoar o morro da Penha com os ares da Úmbria e Perúgia. Realmente, hoje quem sobe o convento de N.S. da Penha com 160 m. acima do nível do mar, não sente calor, sente o vento fresco que protege os freis do calor e do vício. Podem conferir isso na festa do santuário da Penha em Vila Velha-ES, após o oitavo dia de páscoa, em pleno verão quente.

    ResponderExcluir